sábado, 9 de abril de 2011

Senti II

Ela acabou por vir ainda que a medo e a olhar para mim com uma cara assustada e vulnerável, agarrei-a pelo braço, “a mão dela está tão fria!” pensei enquanto cambaleava pela porta da minha casa o mais sorrateiramente possível, os meus pais não me podiam ouvir…MESMO! Não queria que eles soubessem daquela situação toda em que me estava a meter, pelo menos por enquanto. “tens de fazer pouco barulho, os meus pais estão a dormir”, sussurrei ao seu ouvido, ela abanou a cabeça concordando com o que eu acabara de dizer. Subi com ela segura pelos meus braços as escadas que davam para o meu quarto, ela estava mesmo frágil, os pés tropeçavam a cada degrau que subíamos dificultando-me a tarefa de manter o silêncio naquele momento. Entrámos no quarto, deitei-a na minha cama o mais devagar possível, poisei a sua cabeça na minha almofada, a cabeça que caía já sem forças…liguei o aquecedor, apontando-o para o seu corpo. “eu vou-te buscar algo para comeres, já volto”, ela manteve-se imóvel sem dizer uma única palavra, desliguei a luz.


Fui à cozinha ver o que lhe podia arranjar…hum…uma fatia de bolo e um copo de leite…”o que é que estás a fazer acordado a estas horas?”…”mãe! Hã…vim só comer alguma coisa, não consigo dormir…” “andas a fazer muito barulho lá para cima, o que é que andas a fazer?” “nada, sou eu que não consigo dormir, mas eu vou voltar para a cama, até amanhã” “até amanhã, e vê lá se dormes! Tens de aproveitar para descansar nestas férias” “sim, eu sei…até amanhã”…”foi por pouco, tenho de ir lá para cima”, pensei, enquanto subia as escadas esforçando-me ao máximo para equilibrar o copo.





Cheguei ao quarto, acendi a luz…ela tinha-se embrulhado nos cobertores, a cara já não estava tão pálida e quando fechei a porta do quarto os olhos abriram-se, uns olhos verdes, selvagens mas cansados, “trouxe-te uma fatia de bolo e um copo de leite, não sei se gostas…”…ela continuava a olhar-me com os olhos quase a fechar e os lábios secos… estava encharcada…”olha, veste qualquer coisa quente, não podes estar assim…essa roupa está molhada e assim ficas com muito frio…percebes?”, dei-lhe roupa quente e saí do quarto para ela se poder vestir, voltei a entrar e ela já estava vestida com a roupa que lhe tinha dado. “come, tens de comer, estás muito fraca.” “posso?” disse com a voz quebrada, “claro que podes, que pergunta!”. Ela sentou-se na cama e começou a comer, ao princípio muito vagarosamente mas depois de duas dentadas e um gole tudo melhorou. Não tinha reparado que ela era tão bonita.

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