sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Rafael - Parte 17

...Rita levantou-se, vestiu-se e foi para o "sítio secreto”.

Eram quase quatro e já um barulho de motor velho e cansado se fazia ouvir ao longe…ela arrepiou-se…não sabe bem porquê, se calhar é por estar frio…mas a verdade é que não estava frio nenhum, ela não sabia o que se passava…ou sabia?

Os faróis já iluminavam a rua e Rafael esboçou um sorriso quando viu que de facto ela estava ali, que ela tinha mesmo vindo! Ela entrou…

-olá parceira… - disse ele a sorrir.

-olá…lembra-me outra vez…o que é que estamos aqui a fazer às quatro da manhã? - respondeu ela bocejando.

-vamos fazer o que não chegámos a fazer no outro dia.

-bowling? Onde é que vamos jogar?

-eu disse-te que não íamos jogar bowling… - disse Rafael sem tirar os olhos dela.

-então?

-já vais ver... – a carrinha arrancou…

Estiveram na estrada algum tempo até o Rafael parar a carrinha à frente de uma casa…

-sabes que casa é esta? – perguntou ele.

-por acaso sei! É a casa da nossa professora de Inglês, a professora Joana.

-ora bem… - e dito isto saiu da carrinha, foi à parte de trás da mesma, pegou numa bola de bowling, deu a volta e ficou em frente a Rita que baixou o ruidoso vidro.

-lembras-te desta menina? – perguntou Rafael apontando para a bola.

-essa bola… - lembrou-se de na loja ver uma bola com o nome “Joana” escrito – é a bola da loja?

-yap… - disse sorindo.

-quantas bolas tens lá atrás? -perguntou assustada.

-7… - disse sorrindo ainda mais

-Rafael… - ela não queria ouvir o que aí vinha.

-diz-me uma cena, quantas disciplinas temos? - Rafael estava quase a rir.

-7…- disse Rita com uma cara apreensiva – o que é que isso significa Rafael?

Ele virou-se para a casa da professora Joana, a professora de inglês, e levou a bola consigo. Rita via o que estava a acontecer e só esperava que nada de mal acontecesse. Rafael continuou até começar a pisar o jardim da professora, depois, e como se estivesse a jogar bowling, fez um arremesso que percorreu todo o jardim da professora…voltou para a carrinha deixando a bola de bowling no sítio em que ela, livremente, parou. Entrou.

-ok…o que é que acabou de acontecer? – perguntou Rita, incrédula.

-pensa assim, daqui a uns anos vais ter uma família grande e numerosa, e vais querer contar histórias…e umas das histórias vai ser a do dia em que, na secundária, tu decidiste, às quatro da manhã, colocar uma bola de bowling no jardim do teu professor de Físico-Química que, por sinal, vivia mesmo em frente à casa da professora de Inglês…e ele chamava-se – disse enquanto lhe mostrava a bola de bowling com o nome “Zé” escrito - Zé. - Rafael estava com um sorriso esboçado na cara, maior do que o habitual.

-não! Nem pensar! Eu recuso-me – ela ficou a olhar um bocado para ele…até que pegou na bola e correu até à entrada da porta do professor José, deixou lá a bola, e fugiu para a carrinha.

-vai vai vai! - disse ela nervosa enquanto Rafael demorava tempo propositadamente, ajeitando o retrovisor e penteando-se – anda lá parvalhão!

A noite seguiu o seu rumo e já só faltava uma bola, a do professor de Educação Física, o professor Tomás…coube à Rita ir lá colocar a bola. Ela foi...olocou a bola mas quando voltava para trás viu um carro da polícia a passar por ali, correu para a carrinha, baixada, de joelhos, a sujar completamente a roupa que trazia...entrou…Rafael já estava baixado e ela baixou-se o máximo que pôde também. O carro passou e ninguém viu nada, mas ela estava sorridente, sentia-se viva…coisa que há muito tempo não sentia.

O tempo passou, eram já 6h43m…depois de fazerem tudo aquilo, de percorrem tanta casa um pequeno almoço sabia bem, e havia ali um café que abria às 6h por isso…

-hum…estava com uma fome – disse ela. Ele não parava de a olhar – mas espera aí…sobraram duas bolas…

-yap… - disse Rafael sem tirar os olhos dos dela.

-pensava que fossem só sete…

-eram nove… - corrigiu ele.

-quais são os nomes dessas?

Ele não disse nada…ela pegou nas duas, rodou-as para ela…

-Rita e Rafael? – perguntou ela? – ela ficou a olhar para elas sorrindo…

-yap…Rita e Rafael… - disse ele olhando para ela.

-porquê? - perguntou Rita ainda sorrindo.

-é para nós, finalmente, jogar-mos um dia bowling…a sério!

-nah…o meu pai não me deixaria. - o sorriso e Rita desapareceu por momentos.

-não?

-não…

-então não resta outra solução… - disse ele.

-o quê?

Ele pega numa caneta, rasga um bocado do papel que estava na mesa do café e começa a escrever e a ler o que escrevia em voz alta:

-“senhora empregada! Era uma meia de leite e um croissant…quer dizer, traga dois de cada. E só pagaremos quando pedir-mos a conta. Ass: Rita e Rafael”.

A Rita ficou a olhar para ele completamente confusa.

-o que é que isso significa? - perguntou ela.

-não podes jogar bowling…então vais ser uma mulher gorda por causa de te empanturrares com meias de leite e croissants – ambos sorriram.

Depois de comerem tudo deixaram as duas bolas na mesa e saíram sem que a empregada os visse. Quando ela chegou à mesa viu tudo aquilo e esboçou um sorriso…quando é que eles iam pedir a conta? :D Eles estavam a ver tudo do lado de fora do café…que noite!

Rafael levou-a a casa num instante, já era de manhã e o sol já tinha nascido há algum tempo…Rita via Rafael guiar com o seu olhar sonolento mas lindo…gostava mesmo de estar ali!

Ela chegou a casa e quando se viu ao espelho da casa de banho sentiu-se viva! Estava cansada e completamente estoirada da noite mas, e ao contrário do que podia pensar, sentia-se bem! Sentia-se mesmo bem! Lindo!

Rita caminhou para o quarto tentando não fazer barulho…se os seus pais soubessem o que ela tinha feito, ou com quem ela tinha estado, ou a que horas….ok…era mau se eles soubessem. Mal chegou ao quarto atirou-se para a cama e ficou a olhar para o tecto com aquele olhar selvagem e cheio de adrenalina, deitar-se daquela maneira soube tão bem…

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