domingo, 18 de setembro de 2011

Rafael - Parte 19

-ele está a começar a dar cabo dos meus nervos. - continuou Rita enquanto tentava esconder o papel.

-é aquele gajo da carrinha né? Lá da escola? - perguntou Raul impaciente.

-sim…

-ele é maluco ou assim?

-é um bocado – disse a sorrir.

-ele gosta de ti? – perguntou com um tom de voz mais sério.

-ele gosta da carrinha dele... - disse Rita rindo.

-hum…mesmo assim…não o encorajes…

-não….achas?!

-não! Até porque tens à tua frente um menino que não te suja as mãos como esse Rafael…

-o quê – olhou para as mãos e viu que estavam cheias de óleo – que bom! Estou toda suja…

-vês? Eu disse-te - disse rindo – bem…e eu tenho de ir…gostei muito de estar contigo.

-eu também… - beijaram-se, ele foi-se embora, ela foi lavar as mãos. Eram 21h54m…será que ele ia aparecer mesmo às 22? Ela bem que não queria admitir mas estava curiosa para ver se ele vinha ou não. Ele não tinha nada que fazer aquilo que fez. Podia ter corrido mal, o Raul podia ter lido o outro lado do papel e de certeza que isso iria arranjar confusão…e não é o que está a acontecer…não…de maneira nenhuma…aquele Rafael não tem interesse nenhum…

Eram 22h00, ela foi ao quarto, olhou pela janela e lá estava a carrinha, mesmo em frente à sua casa. Ela saiu e foi ter com ele…

-Rafael! – gritou ela, ele estava um pouco distraído pelo que se assustou com aquele grito.

-ei parceira…tudo bem?

-não…não está tudo bem...

-então? O que é que se passa?

-precisamos de falar! - gritou ela super enervada.

-entra… - respondeu ele calmamente.

-não! Eu não vou a mais lado nenhum contigo! - continuava a gritar e a gesticular movimentos de raiva com os braços.

-fixe…então falamos em tua casa…adorava beber um chá com os teus pais… - disse com um tom irónico.

-não… - continuou Rita, mas Rafael começou a fazer beicinho, a fazer uma cara triste, engraçada…mas triste – não…não e mais não!

Pois...bem, já iam a andar pela estrada fora há alguns minutos até que Rita disse:

-não podes entregar cenas assim em minha casa…não podes…

-ahahah…resultou…olha bem onde estás… - disse com um sorriso nos lábios do tamanho do Mundo.

-olha…é assim…eu até gosto de ti…és meu amigo…mas se vamos fazer cenas destas…se tu vais insistir em fazer cenas destas eu tenho de estar a par do plano.

-mas sabes…a cena engraçada é que não há planos. - disse a frase com um gozo tremendo.

-tretas! Tretas…tens aí tudo esquematizado já…és cheio de esquemas e de frases elaboradas e misteriosas e blah blah… - disse Rita virando o olhar da cara de Rafael para a estrada.

-é isso que tu pensas? - ele fez o contrário de Rita.

-é…é exactamente isso…e não podes esperar que eu largue tudo só para – foi interrompida.

-ei! Ei! Eu não espero que tu faças nada! És livre de ires embora quando quiseres…aliás! Porque é que a menina Rita está a andar com um cromo das carrinhas como eu? Hum? A perder o seu tempo precioso…

A carrinha chegou a um sinal de stop…podia seguir em frente, virar à direita, virar à esquerda ou voltar para trás…ou ficar exactamente onde estava. Não havia movimento aquela hora mas a carrinha parou na mesma. Dentro dela a tensão crescia a cada segundo passado.

-isto é fixe, esta é a parte do filme em que estamos na encruzilhada… -disse Rafael com um tom um pouco irónico mas também sério.

-estás a ser um estúpido… - disse Rita quase a chorar.

-oh vá lá rainha da escola, campeã de ténis, namorado perfeito! Não tens nada mais fixe para fazer num sábado à noite? Baza…vai…sai daqui…

Ela ficou a olhar para ele durante um bocado com um olhar triste e enfurecido…e uma lágrima caiu…mas não disse nada. Saiu da carrinha e fechou a porta com uma força que nem sabia que tinha…ficou uns segundos do lado de fora a movimentar-se de um lado para o outro com um corpo, depois virou-se novamente para Rafael.

-sabes uma coisa? Eu achava que eras diferente…mas tu não és diferente! És apenas mais um rapazinho imaturo! É isso que tu és! - olhou para ele com aquele olhar selvagem e inibido recheado de lágrimas – e tens razão…eu estou a perder o meu tempo aqui…contigo!

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