domingo, 17 de abril de 2011

Senti IX

Eu e ela…ela e eu. Um sonho de crianças, mas crianças que viveram aquilo mesmo!


Vivi com ela os melhores momentos da minha vida! Esta adolescência marada que me deitou a baixo…ela levantou-me do chão com um sorriso e uns olhos lindos. E não esqueço aquela noite, foi o melhor que me podia ter acontecido.


Os meus pais acabaram por descobrir tudo. Proibiram-me de a ver, afinal, “ela vem de uma família de pobretanas que nem um carro jeitoso tem”, odeio-os! Fugi de casa muitas vezes para a ver, encontrámo-nos muitas dessas vezes. Fugir sempre esteve nas nossas cabeças, era uma solução que assentava que nem uma luva nas nossas intenções, mas nunca conseguiríamos sobreviver sem casa, sem dinheiro…o que é que faríamos? MERDA! Odeio esta pergunta, sempre a mesma coisa!

Um dia os meus pais viram-me a sair de casa para mais uma visita às escondidas e foram atrás de mim, apanharam-me e juraram que se eu voltasse a estar com ela nos mudaríamos para outro sítio, um sítio bem longe dali. Era eu que iria para um longe desta vez…eu não podia fazer isso, não aguentava estar longe dela.

Fugir nunca me saiu da cabeça, e talvez fosse a melhor ideia. É a melhor ideia!


Fugimos os dois para um casebre que eu conhecia e que era da minha família, um casebre abandonado e que já não era utilizado por ninguém. Nunca ninguém ia desconfiar que estaríamos ali tão perto…será? A polícia acabou por nos descobrir 3 dias depois. Os meus pais garantiram que nos íamos mudar, eu não sabia que eles eram mesmo capazes de fazer isso…mas fizeram.


Nunca mais a vi, não sei o que lhe aconteceu, como é que ela está, onde é que ela está…não me deixaram despedir dela. Senti uma revolta dentro de mim que me fez estar calado, não me dar com ninguém da minha escola nova, não falar para os meus pais, tirar 0 em todos os testes, chumbar o ano, bater em alunos que me provocavam, começar a fumar, começar a beber, começar a roubar, deixar de sonhar. Deixei tudo para trás, transformei-me numa pessoa nova, com o dobro das preocupações e com metade da vida…tudo sem ela. Não houve um dia em que a cara dela não me aparecesse à frente…às vezes até parecia que ela estava ali, mesmo! Mas não estava.


Fui expulso da escola por agredir um colega de turma até lhe partir o nariz e uma perna, não sei como não parei numa casa de correcção. Desisti de tudo, de mim, dela…como fui estúpido…eles levaram-me? E quê? Eu voltava atrás para ela…porque ela precisava de mim, porque eu precisava dela.


Agora é tarde.