sábado, 3 de setembro de 2011

Já larguei :)

Ela sorriu para mim mais uma vez, e mais uma vez eu olhei amargamente para o chão sem fazer a mínima ideia do que se ia passar. O frio cortante congelava o que restava dos nossos pensamentos naquele momento e enquanto os olhos dela brilhavam, reflectidos pela luz da lua que naquela noite estava particularmente brilhante e austera, os meus tentavam ao máximo esconder-se na escuridão imensa do mar.

Ela olhou para mim e ficou assim durante um bom bocado…mas eu não fiz nada, continuava a brincar atrapalhadamente com os grãos de areia que tinha mesmo à minha frente, precipitava-me para a frente para vislumbrar uma ou outra concha mais bonita que me saltava à vista, quando no fundo fazia o máximo para evitar o olhar dela…ela sorriu levemente sabendo o que eu estava a “tentar” fazer e estendeu-me a mão…eu fingi não reparar e continuei a atirar conchas para o mar revolto que me gritava “Faz alguma coisa atrasado!” … mas eu não queria fazer nada! Estava farto de tentar e de tentar e de tentar mais uma vez…para quê? Afinal qual era o motivo que levava tão fortemente uma acção a ser tomada numa daquelas situações?

Ela deu-me um murro amigável no ombro com a mão que antes me tinha esticado e que foi completamente ignorada por mim…eu olhei para ela e mordi os meus lábios com tanta força que acabei por trazer sangue para aquela noite limpa. Limpei os lábios imediatamente com as costas da minha mão direita…e ela aproximou-se…”o que é que queres?” perguntou, mas eu, para dizer a verdade, não fazia a mínima ideia…queria beijá-la? Claro que queria! Quem não quereria? Os beijos são tão bons…é ao dar um beijo que sentimos o empenho que a outra pessoa tem em, naquele momento, naqueles breves segundos doces e quentes, fazer-nos sentir melhor…fazer-nos esquecer o que nos chateia…é por isso que são tão mágicos, é por isso que sentimos aquele arrepio tão exagerado que nos sobe pelo corpo e que só pára quando o próprio beijo pára…quando ficas a olhar para os olhos dela…

Eu não dei esse beijo, continuei sem responder ao que ela me acabara de perguntar e queria manter-me assim. Por incrível que parecesse ela não ficou chateada, nem se levantou repentinamente dizendo “esquece”…népia…limitou-se a ficar ali sentada comigo, na areia fria, a olhar para a frente, acompanhando o meu olhar que, para dizer a verdade, não apontava para lado nenhum em concreto, simplesmente para algum lado, um lado que não fossem os olhos dela…

“eu quero mesmo beijar-te…” … houve uma pausa e depois de ouvir aquilo virei-me para ela… “porquê?”, perguntei … ela pegou repentinamente na minha mão e colocou-a sobre o seu peito… o que senti fez com que, pelo meu corpo todo, percorresse uma vaga de calor misturada com uma de gelo, mais frio que o vento daquela noite…o que senti…senti o seu coração a querer saltar para fora do seu corpo. A minha mão ia e vinha à medida que o coração bombeava sangue para aquele ser inexplicável…

“é por isto” … houve mais uma pausa, eu olhei para ela … ela olhou para mim…o que é que eu podia dizer? Nada…nestes momento o importante é mesmo ficar calado e fazer exactamente o que se tem de fazer…

Passei a minha mão pelo seu pescoço, aproximei-me…e desta vez era ela que baixava o olhar (claro :) fiquei a centímetros da boca dela, da língua dela…com a minha mão livre toquei-lhe no queixo, puxando a cara dela para mim, aqueles olhos para mim…

Sabia a vodka preta e eu sorri quando ela, de seguida, disse olhando para mim…“safari :) “

Rafael - Parte 8

…Segunda à hora de almoço

Rafael dirige-se para a sua carrinha apressadamente, seguido por Rita.

-Rafael…Rafael! Estás a ouvir?!

Ele entra na carrinha e fecha a porta, ela aproxima-se da janela…

-não me respondes? Estiveste calado a aula toda… - silêncio – sabes que o relatório é para apresentar Quinta não sabes? - perguntou um tanto furiosa.

-sim…mas a pergunta mais importante será: como é que está o Raul? O teu namorado... - e ficou a olhar-lhe nos olhos, sorrindo.

-o Raul não é meu namorado…

-boa escolha esse Raul, gajo bom, inteligente, joga futebol, não dá para errar…

-estavas no lago…

-não…mas tu estavas.

-se não estavas como é que sabes? - houve uma pausa...

-porque é para lá que todos vão. - respondeu Rafael.

-então e o trabalho que temos que fazer?

-entra…faço os meus melhores trabalhos a conduzir… - ela deu-lhe um olhar de raiva.

-eu tenho de - Rita foi interrompida.

-fazer o trabalho…já percebi! Então entra… - continuou Rafael.

-eu não vou entrar aí! Tenho de ter boa nota e tu não estás a perceber isso! - gritou frustrada.

Ele liga a carrinha e começa, lentamente, a andar para a frente...

-bem…sem mim é que se torna um bocado difícil fazeres o trabalho… - diz ele enquanto se afastava.

Ela fica a olhar para a carrinha a afastar-se e desiste… -espera! ...

...Já estão a andar há alguns minutos e já se afastaram muitos quilómetros da escola…

-ok…então divides isto por cem e depois? - perguntava Rita concentrada no caderno que tinha à frente.

-pensava que quem era a menina perfeitinha eras tu… - Rafael olhava para a estrada a sorrir.

-sabes ou não sabes? - disse sem paciência.

-divides por cem e depois multiplicas pelo que deu na pergunta 2.1. - esclareceu Rafael com o tom mais impaciente possível.

-sim….

-então? Dá correcto ou não?

-dá! Percebes muito disto… - Rita olhou para ele confusa...

-sim…

-eu não percebo…há muita coisa que eu não percebo…

-se calhar está na hora de começar a estudar não? - gracejou Rafael.

-não estou a falar da matéria…estou a falar de ti…

-não estou a perceber…

-até agora fizeste os exercícios todos numa boa…e não queres fazer nada…não queres seguir nada…

Ele continuou com os olhos na estrada e com um sorriso nos lábios.

-qual é a piada Rafael?

-menina – olha para ela – tu não sabes da missa a metade. - e deu o maior sorriso.

-uuu…mistério…bem, vamos voltar.

-qual é a pressa?

-tenho de ir para casa estudar para um teste que vou ter amanhã… - continuou Rita.

-e qual é a pressa? Olha à nossa volta! Estamos aqui! Não há mais nada a não ser uma estrada à nossa frente, uma carrinha amarela e um saco cheio de oportunidades. – olhou para ela sorrindo.

-ok…que oportunidades? - perguntou Rita ainda mais confusa.

-escolhe um sítio! Um sítio qualquer…

-ok…eu escolho a minha casa.

-não…eu não me consigo concentrar a guiar em linha recta assim…

-então vira…

-viro onde?

-onde quiseres…

De repente ele vira o volante para a direita, impulsionando a carrinha com uma rapidez voraz, fazendo Rita cair para o seu colo.

-estás parvo?! - gritou ela.

-disses-te para virar onde quisesse…e este sítio parece-me bem para um piquenique. - disse com os olhos esbugalhados...

-o quê? – ele sai da carrinha – onde é que vais?!

-vamos fazer um piquenique…está um dia brutal!

-mas…eu tenho de ir para casa – ele afasta-se – estás a ouvir? Mas onde é que nós estamos? Isto é uma firma de advogados? Wtf?

Ele pára de repente e ficam os dois frente a frente…tão perto…ele diz sorrindo:

-está na hora do piquenique – e entra na firma.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Rafael - Parte 7

…Sexta (em casa da Rita, no quarto)

-porque é que insistes em maquilhar-me Susana? Já disse que não quero ir com... - Rita foi interrompida pela melhor amiga.

-cala-te cachopa! Tens de arrasar hoje à noite!

-ai é? Então? Qual é o motivo?

-o menino bonitão vai lá estar… - disse Susana com o maior dos sorrisos.

-quem? O Raul? - perguntou Rita, mas não era bem uma pergunta...

-“quem? O Raul?”…não! devia ser quem? E não te faças de coisinha que eu bem vos vi a falar no parque de estacionamento.

Batem à porta…

-entra – disse Rita.

-olá Rita, olá Susana…Rita, dá para me emprestares 10 euros? - o irmão mais velho de Rita tinha entrado no quarto.

-para quê Tiago?

-só para hoje à noite…amanhã devolvo-te…

-ok…sai do meu quarto! Há muito tempo que me deves 10 euros e 10 euros e 10 euros! E nunca me pagaste – disse, atirando uma almofada contra o irmão que num ápice saltou dali para fora.

-Rita…este teu irmão é um cravas…

-ya…infelizmente sei disso…bora para o “Lago”?

-bora…

Mais uma sexta a aproveitar…mais uma noite no “Lago”, e como sempre aquilo estava cheio! As águas calmas do lago mostravam a lua cheia inquieta lá em cima, que via tudo o que se passava com um sorriso brilhante.

-olá senhora presidente…

-olá Raul… - corou!

-e como já é habitual…vou trocar-vos por vodka – disse Susana sorrindo.

-queres ir dar uma volta Rita?

-sim…vamos…

Ele levou-a para um sítio sossegado, onde não estava nenhuma alma alcoólica a espiar, e mal teve oportunidade beijou-a…ela respondeu…dois faróis acendem-se ao longe, em cima do penhasco…e uma carrinha afasta-se…

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Rafael - Parte 6

…Quinta de manhã

Um silêncio percorre a sala de Físico-Química…só se ouvem as soluções heterogéneas a borbulhar nos balões de Erlenmeyer, de resto o Mundo parou. Rafael não pára de olhar para Rita que está a concentrar-se ao máximo para não dar com o balão e com a solução na cabeça dele.

-com que então não te lembras… - disse Rafael.

-de quê? – disse sem tirar os olhos do livro.

-eu sentei-me atrás de ti numa peça de teatro do sexto ano…tu eras a princesa e eu era o soldado Russo número 3.

-eu não me lembro disso... – continuando a olhar para o livro.

-é claro que não…a princesa nunca se lembra das pessoas pequenas…

-peço desculpa….deixa-me chorar por ti – diz com ironia.

-devias…devias – diz sorrindo – porquê o Raul?

-desculpa? – olha para ele

-tu ouviste…porquê o Raul? – diz aproximando-se.

-vem de uma boa escola, é capitão da melhor equipa de juvenis a nível nacional…esse tipo de coisas… - volta a mergulhar na matéria

-hum…boa boa…imagino que ganha bolsas por causa disso tudo…

-sim, tal como eu…porque jogo ténis.

-hum…ténis…ou seja dão-te dinheiro por mandares uma bola por cima de uma rede…

-mais ao menos isso, sim - diz com tom super irónico - e tu? Concorreste a onde? – disse virando-se para ele.

-a lado nenhum...

-não vais para a universidade…

-nope…

-então…o que é que vais fazer?

Ele fica a olhar para ela durante muito tempo – o céu é o limite!

-uau…boa para ti…uma coisa, porque é que continuas a ter esta aula? Supostamente já a podias ter terminado o ano anterior…se não queres ir para a universidade…

Ele vira-se para a frente…

-hum…de certeza que existe uma razão para estares aqui….e eu vou descobrir qual é…

-não penses muito parceira, entre o ténis e os estudos pode dar-te alguma coisinha má…

Ela olha para ele com raiva e logo de seguida vira-se para o livro…de novo…ele sorri.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Rafael - Parte 5

? Rita ficou a olhar para ele incrédula por não fazer a mínima ideia do que estava a acontecer ou o que é que ele estava a dizer.

No fim da aula Rita dirige-se ao professor.

-stôr…eu queria falar-lhe do Rafael…eu não consigo trabalhar com ele…nós...

-têm uma química má? – diz sorrindo.

-sim, ahahah, pode-se dizer que sim…

-ele quando se aplica é muito bom…

-sim…mas…

-tenta fazer com que resulte… - disse o professor José muito sério.

-ok…eu…vou fazer isso… - respondeu Rita...sempre a obedecer...sempre a obedecer.

-adeus Rita…

-xau stôr…

Ela vai a sair quando Rafael se dirige ao professor apressadamente.

-Zé! Eu não consigo trabalhar com ela! Porque é que me escolheu como par da Rita?! Eu não percebo! A sério que não percebo! Ela não quer trabalhar! Está sempre a acender o bico de bunsen!!! Eu não aguento! - gritava Rafael.

A conversa continuou enquanto Rita esperava cá fora a ouvir o que se passava sem que Rafael e José se apercebessem de que ela ali estava.

Rafael saiu da sala e deu de caras com Rita.

-quem é que pensas que és? – perguntou ela.

-quem é que tu pensas que eu sou? – e afastou-se.

Rita ficou vermelha de tão furiosa que estava e caminhou para o parque de estacionamento onde tinha o seu Mercedes…estava na hora de ir para casa estudar, e deixar de parte aquele Rafael…miúdo estranho…acabou por encontrar Raul…

-olá senhora presidente. - disse Raul com o maior dos sorrisos.

-olá Raul, tudo bem? - cumprimentou esquecendo o resto.

-sim e contigo?

-está tudo bem…

-olha, estás a pensar em ir ao “Lago” este fim-de-semana? - perguntou Raul ansiosamente.

-sim…provavelmente….já chega a ser tradição. Tu vais?

-é possível…

Ao longe vê-se Rafael a trocar peças com um homem, peças que de certeza que seriam para a sua carrinha que ali estava…mesmo linda. Quando Rafael vê Rita pisca-lhe o olho e acena.

-quem é aquele? – perguntou Raul.

-ah…ninguém…é o meu parceiro de laboratório…

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Rafael - Parte 4

… Segunda de manhã

-Bom dia meninos, hoje vamos começar com os trabalhos a pares, por isso preparem-se que eu vou chamar os vossos nomes…não me quero estar a repetir portanto pouco barulho se fazem o favor. Ana e Teresa, Leonardo e Tiago, Bruno e Catarina, Vanessa e Júlio, Hélio e Octávio, Guilherme e Rodrigo, Alexandre e Joana, Rita e Rafael, Vitória e Fábio, Edgar e Luísa, Tomás e Juliana…………

Já todos tinham par, só Rita é que ainda estava sozinha na mesa de laboratório de Físico-Química que lhe tinha sido atribuída…quem era esse Rafael afinal? E onde é que estava?

-abram os livros na página 67 e comecem a responder às questões antes de procedermos à experiência.

Rita começou a fazer o que o professor José pediu, era muito boa a fazer o que lhe mandavam…talvez fosse altura de ela começar a mandar os outros fazerem alguma coisa…não?

Esteve com o olhar preso em todas aquelas figuras estranhas que ela compreendia tão bem, mergulhada naqueles números que conhecia tão bem…era um mundo em que ela, mais uma vez, era popular, inteligente,

-olá - disse um rapaz que se aproximou.

-olá…és tu que és o Rafael?

-nunca te menti até hoje…não vou começar agora - respondeu com um sorriso nos lábios.

-ok… - olhou confusa - eu chamo-me Rita. Porque é que chegaste tão tarde?

-a minha carrinha…tive uns problemas com ela…

-hum…ela de certeza que vai ficar bem – disse com um ar irónico – abre o livro na página 67, temos de fazer estes exercícios…

-sim… - e dito isto liga o bico de Bunsen, por onde saía gás, acende um fósforo e …

-não vamos precisar disso – disse Rita soprando e apagando o fósforo.

-hum…tu és daquelas meninas chatas?

-não porquê?

-porque é que não vamos precisar disto? - perguntou Rafael aproximando-se.

-porque temos de fazer este exercício que o stôr mandou…

-porquê?

-porque precisamos de tirar boa nota… - respondeu Rita que parecia muito séria.

-hum…então e porquê?

-porque podemos ganhar bolsas…

-ah…já entendi…

-o quê?

-és daquelas meninas chatas…

-porquê, por querer pensar no meu futuro?

-futuro…ahaha…

-vai ajudar ou não?

-eu ajudava mas sabes – acende de novo o fósforo, liga o gás e atiça a chama – nós não precisamos de testes 100%... - olhava para a chama brilhante - nem de pessoas a dizerem-nos o que fazer…tu minha menina estás 10 anos à frente do teu tempo – ela ficou a olhar para ele – nós não precisamos de Físico-Química…. - aproximou-se ainda mais dela - precisamos de uma máquina do tempo… - e sorriu.