terça-feira, 6 de setembro de 2011

Rafael - Parte 12

…Quinta de manhã

-…por isso tenham cuidado e não entornem as soluções que eu preparei-as com muito cuidado e não quero ter de vos bater! – disse o professor José com um tom engraçado e simpático.

As caras dos alunos que se encontravam na sala estavam pálidas…nada se passava…só coisas à volta a borbulhar, neurónios a rebentar…actividades para fazer….seca…o esverdeado dos olhos de Rita começava a desaparecer, ela estava cansada e não lhe apetecia nada continuar fechada naquela sala…mas as notas…o futuro relembrava aquela cabeça e ela voltava logo a olhar para a solução aflita, para ter a certeza de que tudo estava a correr como era previsto…

Rafael olhava para aquela solução estranha a borbulhar mesmo à sua frente…olhou para Rita…olhou para outros dois parceiros que estavam mesmo à frente dele…pegou num recipiente que ali estava e entornou um pouco do que estava no seu interior…

-oh não…olha o que eu fiz – disse para Rita.

-ei…tem cuidado… - disse meio a dormir, sem saber ainda o que ele acabara de fazer.

-achas que eu vou ter problemas? – disse aproximando-se de Rita, os outros dois parceiros tiraram o olhar da sua experiência e dirigiram-no para Rita e Rafael.

-o quê? – perguntou ela.

-achas que vou ser castigado? … vais-me castigar por isto? - ele continuava a olhar para ela com um ar de misericórdia fingido.

…houve um silêncio estranho que cortou aquela mesa. Os outros dois parceiros tinham esquecido completamente o que estavam a fazer e não paravam de olhar Rita e Rafael…

-hum? Vais castigar-me por isto ou não? – perguntou ele.

-se calhar vou ter de fazer isso – ela aproximou a sua cara da dele.

-porque tu sabes o que eu sinto em relação a essas cenas todas…

-bem parceiro, eu acho que não tenho outra escolha…tu sabes o que combinámos… - disse Rita contendo o riso.

-aquelas cenas pontiagudas magoam mesmo… - disse Rafael com um tom de medo. Os outros dois estavam completamente boquiabertos com o que estavam a ouvir.

-Rafael – disse ela fazendo deslizar o lápis pela face do seu parceiro, passando depois pelos seus lábios – tu foste um menino muito mau…e agora vai ter de pagar pelo que fizeste… - Rafael soltou um gemido...

-importam-se?! - gritou Rita aos outros dois que os olhavam estupefactos.

Eles como que acordaram de um filme muito esquisito, olharam um para o outro e depois voltaram a (tentar) concentrar-se na sua solução que já nem borbulhava. Rita e Rafael olharam um para o outro e sorriram…mais uma vez ele testou-a, e ela passou com distinção.

A aula acabou e o som da campainha ecoou pela escola toda, soltando adolescentes selvagens para o primeiro intervalo da manhã. Liberdade finalmente…nem que seja só por um bocadinho…eles iam os dois juntos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Rafael - Parte 11

-então? O que é que eu fiz? - perguntou Rita que não queria apanhar da melhor amiga...

-“então? O que é que eu fiz?”? Ainda perguntas? Deixaste-me plantada no clube de xadrez…

-iiii…esqueci-me completamente! Desculpa…

-sim sim…por onde é que andaste? Não me digas que estiveste com o Deus grego? - perguntou Susana a sorrir.

-hum?

-o Raul miúda!

-não…estive a acabar o trabalho que tinha que entregar…para Físico-Química…e nem vi o tempo passar.

-com aquele freak? - Susana fez uma cara de nojo.

-ele não é um freak…já te tinha dito…

-um rapaz que anda no secundário e ama mais a sua carrinha do que uma namorada…namorada essa que nem tem!

-és uma parva…ele até é fixe… - disse olhando para o chão.

-olha olha…o Rafael é um atrasado qualquer…só pensa em motores e em sujar-se com óleo…e tu dizes isso…estás cada vez pior!

-olha, mas mudando de assunto…

As conversas continuaram…sobre rapazes giros, sobre raparigas convencidas, sobre óleos e motores…


Rafael - Parte 10

De repente uma senhora entra pelo escritório onde ambos estavam, e diz:

-posso ajudá-los?

Rafael fica a olhar para Rita, como que a dizer “força! Explica aí a nossa situação”. Ela disse:

-bem…estamos à espera do senhor Luís….ele ficou de nos vir atender depois de acabar de fazer uma chamada…

-ok… - disse a mulher confusa ao sair do escritório.

-raios partam o senhor Luís! Estamos aqui à espera que ele acabe de fazer aquela merda daquela chamada há tanto tempo! - gritou Rafael levantando-se de repente.

-sim…quem é que ele pensa que é?! – gritou Rita, sorrindo com toda aquela situação.

Mais tarde apareceram os seguranças do prédio que os escoltaram até à saída…foi tanto o escândalo! Rita entrou no jogo de Rafael tal e qual como ele esperava que ela entrasse…ele sabia que havia alguma coisa nela…

No caminho de volta viam-se duas figuras numa carrinha…uma delas a conduzir…e a outra com a mão na cabeça de quem estava a conduzir.

-então…és filho único, a tua mãe trabalha numa indústria qualquer, o teu pai trabalha na construção e vives num casarão nos arredores da cidade… - disse Rita, acabando de retirar a mão da cabeça de Rafael.

-pois…na verdade eu tenho dois irmãos e três irmãs…o meu pai trabalha numa oficina, a minha mãe trabalha numa creche e vivemos numa casa que fica numa quinta mesmo à saída da aldeia.

-qual quinta?

-a última…a que fica mesmo à saída da aldeia…

-a última mesmo? A do…”grande portão vermelho” – disseram os dois ao mesmo tempo…

-sim…essa mesmo! - acenou ele a sorrir.

-uau! Essa quinta é simplesmente maravilhosa!

-yap…é aí que eu vivo...bem, vamos lá levar-te à tua tão preciosa casinha sim?

-ahahahah…sim…

Ela sentia-se mesmo bem! Achava que nunca se tinha sentido tão…livre. Estar ao pé dele fazia com que ela se sentisse uma outra pessoa, alguém sem os problemas ou os nervosismos constantes da vida…e isso era bom!

-bem…chegámos, estás entregue.

-obrigado…ainda bem que acabámos esta treta…já fica feito. - disse Rita olhando para o relatório.

-sim, tens razão.

-bem…obrigado…foi uma tarde muito fixe, e um piquenique espectacular! Ahahaha!

-sim…qualquer dia temos de repetir…

-sim…xau Rafael…

Ele ficou a vê-la afastar-se durante um bocado e depois guiou a sua menina para longe dali…bem longe…

Rita entrou em casa, cumprimentou os pais e o irmão e foi para o quarto. No quarto estava a Susana…

-ei! Que é que estás aqui a fazer miúda?

-estou aqui para te dar uma sova! E das grandes!

domingo, 4 de setembro de 2011

Rafael - Parte 9

Ele entra e ela segue-o com o olhar dirigido para o chão, começa a corar com toda aquela situação enquanto que ele saúda o guarda que está na entrada, caminha para a frente e pressiona o botão para chamar o elevador…entra e espera que ela entre também...

-queres qual? Quinto, sexto? Qual andar? - perguntou ele olhando para todos aqueles botões.

-o que é que estamos a fazer? - olhando para ele.

-vamos fazer um piquenique…já tinha dito…

-numa firma de advogados?!

-porquê? No livro das regras dos piqueniques está escrito que não se pode fazer isso? – ela olha-o com uma raiva intensa…muito intensa…

-tenho de ir para casa!

-sim…é só um piqueniquezito…e depois eu levo-te…olha, chegámos! Sexto e último andar…

Eles saem do elevador e todo aquele mar de adultos fica a olhá-los enquanto Rafael cumprimenta tudo e todos sem conhecer ninguém e Rita tenta esconder a cara num sítio qualquer… ele entra numa sala qualquer e senta-se naquelas cadeiras bué fixes que têm rodinhas…

-o que é que estamos aqui a fazer?! - voltou Rita a perguntar...furiosa.

-eu disse, vamos fazer um piquenique. Senta-te…

-Rafael! Eu já disse que quero ir para casa! Tenho de ir estudar!

-sim…e eu já ouvi…já vais…calma…senta-te.

Ela ficou a olhar para ele e cada segundo que passava dava-lhe mais vontade de lhe cravar um chapadão na cara...a vontade aumentava…aumentava e de que maneira!

-senta-te… - insistiu ele – anda lá…senão isto nem é um piquenique em condições…

Ela sentou-se vagarosamente e sem desviar o olhar dele…que raiva! Enfim…sacou dos livros que tinha trazido consigo…os livros de Físico-Química…e começou a rabiscar sem parar. Aquela matéria tinha de lhe entrar na cabeça e ela não se podia perder! Era importante tirar a melhor nota possível!

Ele saca de uma daquelas gomas compridas e super açucaradas, e coloca-a dentro de um croissant dos muitos que tinha (de chocolate) na mochila…de seguida oferece o resultado de toda aquela mistura a Rita que abana imediatamente, rejeitando o que estava a ver. Ele olha um pouco e logo de seguida dá uma trinca, olhando para ela e arregalando os olhos, demonstrando que aquilo que acabara de comer era brutal!

-então…este trabalho depois - mas Rita é interrompida.

-alguma vez pensaste em trabalhar num sítio como este? –perguntou Rafael …ela virou-se para ele.

-eu? Não! Nunca! O meu pai costumava trabalhar em sítios como este…

-ah sim! O paizinho! Deixa-me adivinhar…um bancário? – ela abanava novamente a cabeça em sinal negativo – um contabilista – continuava a abanar – um pescador norueguês? – ela sorria sem tirar os olhos do livro.

-é mesmo chefe de uma empresa que vende electrodomésticos. Não és lá muito bom a ler mentes…

-isso é porque eu não estava a esforçar-me… - olhou para ela e...dito isto rolou juntamente com as rodas da cadeira onde estava sentado, aproximando-se de Rita que continuava entretidíssima entre fórmulas e contas estúpidas…colocando de seguida a sua mão sobre a cabeça dela. Ela acordou…

-o teu pai é um empregado deste mundo! Sempre…de um lado para o outro, com a papelada a amontoar-se na sua cabeça e a segui-lo para todo lado. Quando tinha a tua idade sonhava ser o que és agora: uma aluno brilhante com uma bolsa por ser a campeã nacional de ténis…mas rejeitaram-no, e desde esse dia fez tudo para que a sua filha fosse o que ele nunca conseguiu ser…Rita! A estrela da família, a celebridade da família e da escola…com os livros sempre atrás…que adora ser o centro das atenções…ela só queria não ter de jogar tanto ténis…queria…só… - ela que tinha estado o tempo todo a olhar para a frente virou-lhe o seu olhar…

-sim? - perguntou muito ansiosa.

-...só queria estar um pouco com ela própria – e tirou a mão da cabeça dela.

Ela ficou a olhar para ele com um ar surpreendido…

-então? Sou bom a ler mentes?

-…não és nada assim de especial – disse mentindo...pegou numa das gomas que estavam na mesa e fez uma mistura com um croissant de chocolate que andava por ali a vaguear…meteu tudo de uma vez à boca, e ele sorria…

-bem…não é assim tão mau… - sorriram…