quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Chegou ao fim.
Com mais dores de cabeça, com menos integridade e sem dúvida com muitos rios de papel saídos da mente.
Grande blogue que me ajudou,
 e ainda bem
Saudade ou não daqueles tempos

See ya ;)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Horizonte

A tarde tinha sido a melhor de todas.
Por mais que ele não quisesse admitir, pelo menos não à frente dela, ela tinha sido uma das melhores companhias que ele já tinha tido...a tarde tinha sido a melhor de todas.
Passou quase o tempo todo sentado com ela, a uns metros escassos da água da praia deles. Não quis ir à água, recusou todos convites para ir jogar volley...ela era o que interessava naquele momento...mas ele não queria admitir, pelo menos não à frente dela.
Mas o dia estava a tornar-se mais escuro, mais lindo. Sim..no fundo tudo se tornava um pouco mais brutal à medida que as pessoas abandonavam a praia para voltar às suas vidas enfadonhas.
-Olha para as horas! Como é que me aturas diz lá outra vez ..? - disse ela enquanto esfregava as mãos nos braços. O sol estava a despedir-se de tudo e o horizonte alaranjado brilhava por cima de um mar demasiadamente transparente.
Ela olhou para ele com aquele olhar esverdeado..não saiu nenhuma resposta da boca dele...parecia hipnotizado pelos lábios mais apetecíveis que
-Foi o gato? - Perguntou ela............ele pareceu despertar.
-O gato ?
-Foi ele que te comeu a língua  ? - e esboçou um sorriso brilhante.....
-Parece que sim... - e sorriu juntamente com ela - Que dia...
-Sim...que dia...

Olharam mais uma vez para o horizonte, mais uma vez para os olhos um do outro...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Voa baixo

Estava deitado na relva molhada a ver o semáforo a mudar...de verde para amarelo...de amarelo para vermelho...de vermelho para verde...
Estava lua cheia...ele lembra-se disso, mas não se lembrava porque é que tinha ido para ali...porque é que terá sido ?
Eram as férias do Verão e tudo parecia estar calmo na rua, mas mesmo assim o semáforo insistia em mudar sistematicamente de cor.
O orvalho nas costas era um alívio por causa aquele calor infernal. Por isso é que ele amava o Verão...podia dar-se ao luxo de ir para a rua, a meio da noite, deitar-se na relva molhada e saber que mesmo assim ainda teria calor.
Estava deitado e via as estrelas que um céu limpo deixava mostrar e nunca se sentiu tão bem. Mas porque é que estava lá?
....
Ficou tudo brilhante...mais tarde acordou no céu.

sábado, 13 de outubro de 2012

Nem sei bem o que escrever, só sei que me apetece escrever ou tenho de escrever, porque se não o fizer aquilo que quero deitar cá para fora vai continuar a fazer ricochetes na minha cabeça..i disso eu já estou um bocado farto.
Não sei se estou a sonhar ou se esta vida afinal é mais real do que parece..está sem piada sei lá.
Não gosto de ter namoradas porque acho que não sou um bom namorado. A meu ver preocupo-me demais e isso não é uma característica propriamente positiva até porque o que o sexo feminino gosta é de sofrer e ser deixada para trás e magoada...pelos vistos isso é o que faz com que elas tenham algum interesse no rapaz...ele dá para trás, ele é mau, ele é estúpido...então eu quero-o...e ainda dizem que os homens são burros ou não têm lógica, quando no fundo não sabem ver que quem gosta e cuida daria alguém melhor do que um amigo.
Já são para aí uns quatro anos a falar da mesma merda e já começo a ficar um pouco cansado. Também não é para menos, todos os dias tenho de sair de casa e assistir com os meus próprios olhos a situações como essas.
Tudo começou na secundária e a partir daí comecei a olhar tudo de maneira um bocadinho diferente.
Eu não me posso dar ao luxo de gostar de uma rapariga assim do nada...eu não sou nenhum rapaz que basta aparecer à frente delas para elas, instantaneamente, se passarem. Eu não consigo fazer com que se babem...eu não tenho tudo de mão beijada...e esta é a parte em que dizem ou que pensam "mas se tivesses tudo de mão beijada talvez não tivesse tanta piada"..e é verdade, mas preferia que fosse.
Eu não percebo é só isso...a sério que não percebo..e com 19 anos já estou há muitos a tentar desisitir, mas é um pouco difícil visto que quase a todo o momento estou em interacção (possivelmente) com uma pessoa que goste, ou com uma pessoa que prefere mil vezes um otário.
São alguns anos a falar da mesma merda e já cansa um bocado. Não sou nenhuma pessoa com uma experiência de vida já muito alargada, mas todos os dias durante quatro anos a saber mais do assunto e a pensar no mesmo assunto acabam por transformar uma pessoa numa expert do assunto...mas só do assunto..
A vida preocupa-me um bocado, sei que os tempos estão difíceis e que as contas estão cada vez mais difíceis de pagar mas eu não me consigo interessar por nada.
Dantes era completamente diferente, eu gostava de fazer tudo e de me interessar por tudo e agora népia.
Agora deixei-me levar pela seriedade dos adultos ou sei lá o quê, algo que eu nunca pensei que pudesse acontecer.

The XX - VCR

Mau..já devia estar a dormir..
Népia, vamos antes estar aqui a escrever coisas que mais tarde me vou arrepender de ter escrito! É muito melhor do que ir dizer olá aos sonhos..
Gosto de uma rapariga...pronto tá dito! Que é que queres ó cérebro de merda? Já percebi que ela não sai daí e isso tudo e que gostava era de estar noutro sítio neste momento...
Acho que já não gostava tanto de uma pessoa assim há muito tempo..e também acho que da última vez que isso aconteceu acabei por me arrepender quase ao máximo.
A verdade é que acho que nunca gostei tanto de uma pessoa como esta..pronto!
Sou um bocado horrível, quer fisicamente quer psicologicamente, portanto não devo exigir muito de uma rapariga percebem? Não parto do princípio que uma boazona se interessará por mim.....mas a verdade é que também é um bocado raro existirem dessas que são lindas sem serem parvas...e atenção! Não estou a falar de pessoas perfeitas, como é óbvio.
Mas se há alguém que se aproxima desse nível é essa pessoa...é linda, inteligente, com um sentido de humor acima da média...........................se quiserem posso continuar a carregar nos pontos finais...estão à vontade.
Tenho que acordar cedo amanhã que tenho aula de condução portanto vão ouvir The XX - VCR e calem-se



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Voltei

Este blog já está morto há bastante tempo.
Um brinde às merdas que ele já me proporcionou, às noites de Verão acordado até de manhã, aos momentos mais lindos e brutais de escrita e de paixão por histórias.
No fundo queria sempre acreditar que escrever aqui era a melhor escapatória para os meus pensamentos, um sítio onde podia queimar ideias e memórias que não estavam a fazer nada cá dentro.
Evoluí bastante à medida que escrevi aqui. Olho para trás e envergonho-me de certos textos, admiro-me por ter escrito coisas tão brutais, lembro-me exactamente do sítio da hora e do porquê de escrever tal texto...é engraçado.
Fiz muitas escolhas erradas não haja dúvida. Os tempos vão passando e cada vez mais me apercebo que o que devia ter dito, o que devia ter feito..não quis sair da minha cabeça e às vezes lá aparece para me dar dores da merda.
Nem me apetece muito escrever, o que para mim é um bocado esquisito pois, e embora não escreva nada há MUITO tempo, dantes estava SEMPRE a escrever..sempre com novas ideias para textos e histórias..nunca mais me apeteceu...não sei bem porquê...não queria estar a dizer que cresci...isso é uma desculpa que os adultos dão e eu ainda não quero ser um deles.
Será que a minha cabeça está a transformar-se num monte de pensamentos injustos e altruístas como a deles? Perdi a vontade de imaginar?
Tenho tantos rascunhos aqui..que medo..
Tantos "livros" que comecei a escrever e nunca acabei...
As pessoas viam o que eu escrevia, gostavam, comentavam..e eu perdi-as..perdi-me.
Agora basta deixar levar-me pela corrente de pensamentos que ainda gostam de aparecer de vez em quando.

domingo, 8 de julho de 2012

parte 4

Já não estava no carro.
Agora encontrava-se numa planície verdejante que parecia não acabar.
Ele tinha noção de que estava a sonhar, parecia sentir os solavancos do carro à medida que se aproximava do destino, mas sabia tão bem que estava a sonhar..
E há já algum tempo que os seus sonhos se limitavam a ser aquilo.
Estava com a guitarra nas mãos e a caminhar por um verde absolutamente magnífico que não deixava de existir..quer olhasse para um lado..quer olhasse para o outro..o verde, as plantas..nada acabava.
Tantas eram as vezes que o sonho se repetia que ele procurava caminhar o mais depressa possível, não fosse o sonho acabar de repente...ele sabia que tinha de haver mais qualquer coisa por lá..alguma coisa...mas parecia não haver...
Era como se fosse um mundo só dele, um mundo em que, por incrível que parecesse, ele quase que conseguia esboçar um sorriso.
Parou no sítio onde tinha acordado da última vez..era impressionante como nada tinha mudado..
Ele sabia que se ficasse ali durante um bocado a tocar guitarra..ele sabia pronto.
O sol começava a extinguir-se e o tom laranja carregado começou a cobrir tudo à sua volta.
-ah, estás aqui.
Ele voltou-se para trás ao ouvir aquela voz doce como o mel.
-mana.. - deixou cair a guitarra num monte fofo de ervas e correu para abraçá-la.
Não era nada como nos filmes, ela não era nenhum fantasma..ele sentia-a, conseguia cheirar o perfume que ela costuma usar. Ela estava mesmo ali !
-como é que estás? - perguntou ela com o sorriso mais bonito de sempre.
-os..os pais estão a levar-me.. - respondeu ele controlando-se para não chorar.
-já tiraram tudo lá de casa foi ? - continuou afagando-lhe o cabelo.
-sim maninha...estivemos lá a tarde toda...e agora está na hora de ir.. - e começou a chorar.
-pronto..pronto..vai correr tudo bem.. - disse apertando-o contra ela..ele recompôs-se.
A terra começou a tremer e a lua apareceu, cheia e brilhante como era habitual.
-acho que estamos a chegar...os solavancos... - disse assustado olhando para o chão verdejante que tremia cada vez mais.
-sim..está na hora de ir...amo-te muito..e vou estar sempre aqui. - disse começando a afastar-se, como que a voar.
-espera! Espera!! - mas ele não se conseguia mexer.. - eu também  te amo muito..
-não te esqueças da guitarra... - disse ela..sorriu e desapareceu.

Ele olhou para o lado, o carro chiava à medida que parava numa rua pouco iluminada..a guitarra estava mesmo ali, ao seu lado..e brilhava mais do que nunca.






sábado, 7 de julho de 2012

parte 3

Não havia volta a dar.
O carro não ia parar milagrosamente como ele tanto desejava. Por momentos imaginou um acidente gravíssimo que lhe tirasse a vida, mas logo acordou daquele pensamento mórbido dizendo para si mesmo que os emo's são gente atrasada que ele nunca quereria ser..por favor.
A rua desfilava à frente dele e a noite envolvia tudo à sua passagem, juntamente com a lua cheia linda que parecia acompanhar o carro com uma velocidade mirabolante.
Para trás ficou a vida dele..então não é verdade? Para trás ficou tudo o que ele sabia que existia..aquele tinha sido o mundo dele, o seu dia-a-dia..não havia mais nada para além disso...mas estava prestes a convencer-se do contrário.
Ele nunca foi assim..como era agora...ele queria alguma coisa da vida..ele até costumava sorrir de vez em quando, mas desde que os poucos amigos que conhecia se começaram a mudar para outras casas, para outras cidades, quando todos começaram a desaparecer e só ele é que ficava juntamente com os seus pensamentos sujos e estúpidos de sempre...sem ter com quem falar...ele começou a bater mal.
A irmã morreu num acidente de mota.
Ia ela e o namorado, ambos sem capacete..ele nunca mais lá pôs os pés em casa..aliás, nunca mais o viram em lado nenhum...isso foi numa altura em que ela era o principal posto de abrigo para ele..era com ela com quem ele falava (e ainda fala) e era sempre ela que o ouvia e nunca o interrompia (como ainda é).
Ele mudou bastante.
Agora é mais uma alma penada do que outra coisa..já não lhe apetece fazer nada..já não quer fazer músicas..jogar à bola, conhecer pessoas novas..se dependesse dele morria já ali, naquele carro, naquela noite.."tanto faz" pensou, e fechou os olhos.



parte 2

Por incrível que parecesse, mudar de casa, pelo menos para ele, não era nada de outro mundo, não era nada que não se fizesse.
O problema é que para ele já não havia muita coisa que interessasse. Ele já estava um bocado farto, tinha 18 anos e já estava farto.
Nunca sabia ao certo se estava acordado ou num sonho de merda; não sabia se era naquele dia que as coisas iam mudar ou continuar a ser o que eram...a mesma merda de sempre.
Mas pronto..agora era hora de mudar e, quer ele quisesse quer não, tinha de ir arrumar a mala porque os pais já estavam à espera na cozinha, agora sem pratos e sem talheres e sem mesa...e sem nada.
Passaram o dia todo fechados dentro de casa, a esvaziar o pouco que tinham.
A casa ia ficando vazia juntamente com a cabeça de cada um. Os vizinhos com quem se davam melhor foram aparecendo ao longo do dia para se despedirem e desejarem a melhor sorte possível..foram poucos.
Mas agora eram horas de ir embora, o relógio de cuco que foi a última peça a ser despida da casa assinalava as dez horas da noite..e a família tinha ficado de se encontrar com o senhorio às onze.
O bairro para onde se estavam a mudar ficava a cerca de uma hora de carro dali..nem era longe nem era perto..era..só isso..era.
Ninguém se esqueceu de nada, não ficou nada para trás..apenas o vazio e as recordações de uma vida que, embora não fosse assim tão repleta de coisas boas, foi repleta..mesmo que às vezes custasse..e custou.
Entraram no carro e ele olhou uma última vez para aquela casa pequena e tão acolhedora e tão dele.
Ele não ia chorar..ele é um homem...ele não ia chorar.
À medida que o carro se afastava, e por entre a nuvem que saía do seu tubo de escape encardido, só a lua cheia conseguiu ver a lágrima solitária escorrer-lhe pela face.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

parte 1

Ele teve que mudar de casa.
Por mais que quisesse ficar no lar doce lar que o tinha acolhido desde o momento em que tinha nascido, ele tinha de se mudar.
Os pais tinham escavado até ao fundo do poço e não havia mais nada a fazer. Tudo apontava para uma retirada forçada para um sítio mais "fácil".
Os amigos iam ficar para trás...sim...tinha de ser..mas ele também não tinha muitos desses, limitava-se a conversar com os imaginários, esses nunca o desapontavam e nunca tentavam persuadi-lo a mudar de opinião de repente.
O bairro para onde ia era o típico bairro de "sais à rua de noite =és esfaqueado na melhor das hipóteses". Ele já sabia disso, e embora os pais não quisessem admitir à sua frente, era muito provável isso acontecer.
Os pais preocupavam-se e tentavam ao máximo dar-lhe o que podiam..eram capazes de andar sempre com a mesma roupa para lhe comprarem um t-shirt nova, eram capazes de comer um pouco menos para que pudesse haver uma sobremesa para ele..mesmo que fosse pequena..ele gostava.
Ele fazia de tudo para agradar aos pais, fazia o máximo mesmo. Nunca os tinha desapontado e era esse o principal motivo que levava os pais a fazerem os sacrifícios que faziam.
Mas agora não havia nada a fazer...ele ia mudar de casa.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

ele está bem

O calor percorria vagarosamente o mar verde de plantas que cresciam por ali.
Ele nunca lá tinha estado, era a primeira vez que estava naquele descampado onde parecia que o tempo tinha parado e o Homem nunca tinha tido a vontade de destruir.
Ao longe via-se um riacho que brilhava à luz demasiadamente forte daquela tarde. Como é que era possível ele nunca ter descoberto aquele sítio?
Deixou a bicicleta cair num monte macio de vegetação e começou a andar em direcção àquela que parecia ser a água mais limpa que ele alguma vez tinha visto.

..
 
No mundo real os pais olhavam para ele, deitado na cama de hospital onde ele se encontrava naquele momento..já quase sem vida...com o fôlego prestes a deixar de existir.
O pai segurava a mão da mãe com uma força leve mas segura..nenhum dos dois conseguia saber o que se passava na cabeça dele naquele momento, mas era o que mais queriam.


Ele estava a nadar no riacho...e estava bem acreditem...ele estava bem

sábado, 23 de junho de 2012

Chega
As gajas que se fodam, os gajos que se fodam, eu que me foda
A educação que se foda, os politicos que se fodam, 
Os amigos falsos que se fodam, os professores que se fodam
Os sentimentos que se fodam, o blogue que se foda,
A música que se foda ...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crescer é um pretexto para ganhar educação e perder o que realmente somos: livres

O vento entra pela janela do rapaz e deixa-o vazio, tal e qual como aquele dia frio e cinzento.
Não há grande coisa a fazer mas ele sente que um Mundo inteiro, exageradamente preguiçoso como ele, o espera de braços abertos...mal sabe ele que esse é o propósito e o inalcançável desejoso que todos temos: achar que podemos.
Ele pega na guitarra e faz músicas que nunca ninguém há-de abanar a cabeça à medida que aquilo lhes entra pelo coração; Ele pega no lápis e escreve histórias de sonhos e de magias impossíveis de viver; Ele acorda.
Por mais que faça boa figura nunca vai saber se está ou não a sonhar, se esta é ou não a vida do costume.
Pega no pouco de alma que tem e manda-a pela janela, deixando-a a esvoaçar pela rua e por aquele dia frio e cinzento.
Já começou a tossir..se calhar o melhor é fechar a janela..uma constipação era tudo menos desejada naquele momento.
Por mais que queira não consegue disfarçar as tonturas que o abalam constantemente, os olhos a contorcerem-se para voar para outro lado, o coração que já bateu por tanta coisa que agora não passam de miragens estúpidas..tal como ele..estúpido.
Agora o Mundo gira tal e qual como girava quando ele brincava na lama e nas poças de água suja, o Mundo gira tal e qual como a sua cabeça, agora transformada numa das poças em que ele costumava saltar e sorrir.
Agora ele já não é bem ele, cresceu..bela merda.
Crescer é um pretexto para ganhar educação e perder o que realmente somos: livres.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Porno é coisa do passado..a moda agora é, é ter namorado

Eu agarrava-a contra mim enquanto Arcade Fire rodava no meu rádio mais antigo que o cagar.
A música entrava nos nossos corpos mais atrofiados pelos beijos surpreendentes de cada um do que outra coisa.
O sorriso brilhante reflectia o que nos ia por ali adentro, e a felicidade que o meu coração sentia era tão demasiadamente fodida que eu pensava que a ia esmagar com o meu abraço.
Sentia que naquele momento nada de mal podia acontecer, porque tinha-a nos braços e aquilo  não era um simples sonho estúpido mas a realidade mais real que eu tinha tido durante muito tempo.
Depois de mais um beijo profundo e completamente atordoante..abri os olhos fechados de puro prazer e olhei para ela que mantinha os seus fechados e saboreava o que quer que tinha acabado de provar.
Ela sorriu e depois olhou para mim com aqueles filha da puta de olhos...fodass! que olhos! E depois ainda sorriu mais porque tínhamos combinado que eu ia tentar ao máximo não ser lamechas, é a minha sina..
Os beijos sabiam a amora..eu não gostava de amora..agora gosto de amora...ya..
Os cabelos esvoaçavam e não havia filha da puta de vento nenhum no meu quarto.
Apetecia armar-me em parvalhão e como naquela altura gostava bastante de fazer o que me apetecia armei-me em parvalhão.
Os insultos constantes já faziam parte da noite, a Lua conhecia-nos melhor do que a nós próprios e sabia bem que não éramos nós se não houvesse trocas de palavrões e um abraço a seguir para fazer as pazes.
Arcade Fire parou.
E apetecia-me sentir a língua dela outra vez..demasiado gráfico? nah..demasiado apetecível..
O calor, a saliva, o perfume, o suor, as falinhas mansas...demasiado gráfico? demasiado longínquo

domingo, 27 de maio de 2012

Parte 2 (e última) do conto estapafúrdio e vergonhoso da vida triste e desgraçada do rapaz apaixonado

Por incrível que parecesse ele nunca tinha sido uma pessoa que falasse muito com ela. Embora fosse muito conversador e estivesse sempre disposto a mandar as suas piadas mais secas possíveis, nunca tinha falado com ela a sós...! Só agora é que ele tinha reparado nisso....mas agora já era tarde demais.
Ele caminhava na direcção daquela miúda impressionante, com um copo de safari cola na mão, sem a menor ideia do que estava prestes a fazer...só contava com a ajuda da sua amiga bebedeira que o ajudava sempre nestes momentos e fazia com que ele se sentisse muito mais à vontade para falar com quem quer que fosse...até com ela?
Ele estava quase ao pé dela quando de repente sentiu uma vontade imensa de desistir do que quer que estivesse para fazer..e foi isso que fez...
Acabaram a secundária, cada um foi para o seu lado e nunca mais se viram.

domingo, 13 de maio de 2012

Parte 1 do conto estapafúrdio e vergonhoso da vida triste e desgraçada do rapaz apaixonado

Era só mais uma noite.
Para ele era só mais uma noite..como tantas outras..ia estar com os amigos e eventualmente ia acabar por vê-la...nada de novo..nada fora da normalidade..tal e qual como a sua insistente incapacidade de lhe dirigir a palavra.
Há certas coisas que ficam na cabeça das pessoas...para uns é aquele concerto brutal, para outros é aquele bolo que, não devia, mas acabou por ser comido (todo) por nós, é um assalto, é aquela conta que se tem de pagar.....mas para ele essas coisas eram do mais banal possível...nada podia ser comparado a ela...
Não havia nada que lhe tivesse escavado o cérebro com tanta eficácia..não havia nada que o fizesse sonhar como ela o fazia.
A primeira vez que a viu foi quando passeava com os amigos pela escola nova, quando ainda ninguém conhecia ninguém..e lá estava ela.
No início parecia que não era bem possível estar a ver o que estava a ver..depois, e quando já estava a começar a babar-se, constatou que aquela rapariga devia ser MESMO verdadeira e não uma ilusão de óptica qualquer.
Depois foi tentar, em todos os intervalos, ver onde é que ela estava...e depois o tempo foi passando...e depois nada aconteceu porque ele nunca teve a coragem necessária.
Mas aquela noite continuava apenas a ser mais uma noite..e ela estava lá...a um metro de distância dele...todos falavam uns com os outros mas ele, que sempre foi o mais conversador, parecia não querer dizer uma palavra...sentia-se..triste...sim...essa era a palavra...
A noite foi passando e à medida que os copos esvaziavam, a alegria e a coragem enchiam-lhe o corpo..ele foi ter com ela com um copo de safari cola na mão..

quinta-feira, 10 de maio de 2012

depois logo se vê

Depois de o beijar daquela maneira aproximou os lábios dos ouvidos dele e segredou ao mesmo tempo que roçava o nariz na sua bochecha: "Amo-te" ...ficou algum tempo com os olhos fechados, sem saber bem o que esperava ouvir..mas ele manteve-se calado e passado um bocado ela voltou a colocar-se a milímetros da boca dele..ele olhava-a fixamente, passando dos olhos para os lábios, dos lábios para os olhos..mas não dizia nada..
Ela era diferente das coisas normais, e "era chata" como ele constantemente lhe lembrava..ele adorava levar socos dela sem dúvida, mesmo em cheio no nariz! Mas ela tinha algo que ele ainda não sabia bem o que era...mas era brutal...
Passou a mão pelo fio de cabelo dourado que lhe caía à frente do olho esquerdo verdejante..puxou-o para trás da orelha o mais vagarosamente possível, olhando para ver a reacção dela àquele impulso repentino...
"Amas?", perguntou ele ao ver que os olhos dela deslizavam constantemente para a sua boca.."amar é sério..não se manda para o ar se não for verdadeiro.." .. ela olhou-o com um ar de provocação, "tiraste isso de uma música?" .. ele largou-lhe o cabelo por momentos e voltou a concentrar-se no vazio.."tu não?" ... "tu não o quê?" ... "tu não me amas?" ..
Ele tinha uma dificuldade enorme em lidar com aquele tipo de situação..quantas vezes não tinha dito que amava aquela pessoa...aquela pessoa que agora nem o quer ver à frente...aquela pessoa que não lhe dirige a palavra...a pessoa que ele abraçou nos dias de chuva..agarrou por entre montanhas de lençóis.......era difícil dizer que a amava sabendo que podia acontecer o mesmo...o mesmo...
" e então?" .. continuou ela..
Mas ela era diferente..não era por ser a sua namorada actual..era porque tinha um brilho nos olhos que só se viam em estrelas..e mesmo assim..
Era porque ela lhe batia quando discutiam mas dez segundos depois estava a rir-se e a fazer-lhe cócegas...era porque era ela...e isso era razão mais do que suficiente...depois logo se vê...mas agora.."Amo-te"..e beijaram-se .

segunda-feira, 16 de abril de 2012

domingo, 15 de abril de 2012

Música

Ele sabia que a rapariga misteriosa estava sempre àquela hora naquele lugar..por isso foi para lá.
Tinham 17 anos e embora andassem na mesma turma ele era mais um ser invisível do que qualquer outra coisa..para ele, ela sempre foi "a rapariga", a miúda com a qual sonhava demasiadas vezes, a pessoa que lhe dava mais arrepios do que o vento daquele Inverno gélido.....para ela...para ela, ele não existia.
Mas ele sabia bem que todas as sextas-feiras à tarde ela ia à loja de música...e ele ficava escondido a olhá-la pela vitrina da loja.
Ela sentava-se lá dentro e começava a percorrer as teclas brancas e pretas do piano mais lindo de toda a loja...
Ele nunca teve coragem para a ouvir...a única maneira de o fazer era entrar na loja..! Não! Nem pensar! E se ela o vê?! Não! ... mas era tão bom...de certeza que o som emanado daquelas mão perfeitas seria ainda mais corrosivo do que ele imaginava......também.....acho que não havia problema se...só uma espreitadela....entro e saio...
Ele caminhou para a passadeira...o sinal estava vermelho mas ele nem viu, e se não fosse o buzinar de um mercedes que passou ali a abrir teríamos um rapaz muito espalmado na rua.
Ele já estava cansado de carregar no botão mas ela demorava sempre algum tempo na loja..ficava ali..a tocar naquele piano tão grande e tão belo...fechava os olhos e deixava-se envolver pelo som que saía do instrumento e do coração.
Finalmente o sinal ficou verde e ele correu desalmadamente em direcção à loja. Parou. Olhou. Entrou.
Não olhou logo para ela mas também não demorou muito.
..
E lá estava ela...caminhava os dedos pelos sons mais brutais e mordia os lábios de puro prazer enquanto sentia a melodia...e ele olhava sem conseguir parar...afinal era ainda mais lindo do que ele imaginara...era...perfeito.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Não quero saber das consequências..mandem vir a conta

Voltei a pensar nela..voltei a deixar que a recordação mais dolorosa que tenho me entrasse pela cabeça adentro..outra vez!
Estou farto! Não pode ser assim!
Estou farto de pessoas a tentarem convencer-me de que sou o que não sou. Eu não preciso da vossa ajuda nem de palavras falsamente conjuradas! Não preciso.
Queria saber apenas porque é que estou assim..mais vale virar emo!
O resto de tudo pode esperar..pelo menos por agora, até porque a única coisa que eu queria era saber se o que estou a tentar lutar é a vontade de a abraçar ou de a arrancar da minha cabeça..será que algum dia vou conseguir dizer que não quero mais! Há já algum tempo que penso assim e dá bem para ver onde é que voltei a vir ter.



Só quero dizer que sou um parvalhão, demasiadamente romântico e estupidamente fofinho. Infelizmente esses são atributos que repelem a simples ideia de te ter nos braços mais uma vez..mas eu vou continuar assim até porque eu não consigo mudar..e tu sabes disso melhor do que ninguém não é? Não há ninguém que saiba melhor que as minhas atitudes e os meus pensamentos, quando focados numa coisa, não saem de lá..não é?
É pena

sexta-feira, 23 de março de 2012

I.C.L de manhãzinha é que é .. já devia estar a dormir

Entrei num ciclo de emoções e preocupações tão estúpidas que só me apetece destruir as merdas todas que já escrevi desde então.
Começou quando entrei para a secundária e a partir daí foi a descambar completamente..mas é na boa.
"és um rapaz especial", "és um gajo cinco estrelas", "qualquer miúda contigo seria a mais sortuda de sempre" .. e então? Se é assim porque é que não quiseste ser a mais sortuda de sempre? Porque é que não gostaste do meu "brilho especial"? METE-TE nojo o facto de eu ser um gajo cinco estrelas? .. ou foi só naquela do tipo, coitadinho dele..precisa de um conforto, de uma palavra que lhe caia bem...quer dizer..olha-me bem para aquela cara..ele precisa MESMO que alguém lhe diga alguma coisa bonitinha ou ainda aparece por enforcado.....foi isso ?
Fodasse...às vezes posso não falar para as pessoas e acabo por parecer um gajo estúpido mas é só a minha timidez a foder-me! Acredita!
Ai e tal faço canções tããããooo bonitas..e canto tããããããoo bem...e então? Se é assim o que é que EU preciso de fazer mais?
Fodasse...não me fodas pah :D não me faças rir egoísta..
Eu posso estar 3 anos inteiros a falar...mas se um parvalhão de merda aparece do nada e olha bem para ele :) é tão bonito :) uau :) e diz uma piada qualquer...pronto! Todos os meus anos e momentos de frases tããããoo bem ditas acabam por perder contra uma piada estupida de uma galinha a atravessar a estrada..mas é na boa.
Se estivesses comigo não sofrias :) bem.. também não é bem assim.. eu consigo ser um namorado muito parvo .. pergunta .. vai haver muito boa gente a concordar com isso..
Dorme bem princesa..nos meus sonhos continuas a ser a miúda perfeita que eu conheci no primeiro dia

segunda-feira, 19 de março de 2012

"o sol está a ir-se embora e nós ainda aqui estamos"

E dar um beijo na boca ?
Aquele primeiro beijo que arrepia e que te faz pedir mais. E ela olha envergonhada para o chão e o vento manda-te aquele cheiro à relva molhada.
E aquele dia? Aquele dia que se tornou noite num ápice?
Se não fosse o meu amigo nem tinha ido ter contigo..sou tão atrasado..fui praticamente arrastado por ele até ti.. grande amigo para sempre <3 ...sou tão estúpido..
Tu já lá estavas, de telemóvel na mão e a tremer com o vento que ameaçava ficar mais frio..acho que nunca te cheguei a dizer mas fiquei um bocado a olhar para ti..antes de me veres..fiquei um bocado a olhar para ti..e os teus olhos lindos passeavam pela floresta mesmo em frente à casa.
Fodasse..tu eras mesmo..linda....estou neste preciso momento a escrever e a sentir o que senti naquele dia..que cena brutal!
Fiquei ali uma beca a olhar..FOGO! A SÉRIO! Eras..tipo.....opah esquece, só a tua cara fazia com que as putas das borboletas começassem a fazer piões cá dentro..
Depois foi o que foi...não sei o que me apetece fazer neste momento :)
O que eu digo é que foi brutal apesar de tudo...acho que valeu por tudo...e desculpa..desculpa por ser o que sou..

"O que eu quero é ficar aqui ao pé de ti,
É tão bom...sabe tão bem, sabe tão bem.."



Sorry <3

terça-feira, 13 de março de 2012

A vizinha (16)

O som daquela pergunta percorreu o quarto e insistiu em bater umas vinte vezes nos ouvidos dele.
-e então? O que é que foste lá fazer?
A vizinha voltou a perguntar. Ela que se encontrava mesmo à frente dele, no quarto dele, a olhá-lo com uns olhos tão selvagens que pareciam cortá-lo. Ele não chegou a responder, continuou deitado a olhá-la, engoliu em seco e depois de inspirar fundo voltou a afundar-se, novamente, num silêncio perturbante.
-tens aí a merda da guitarra - caminhou para a porta mas deteve-se - não voltes a chatear a minha família - disse de costas voltadas para ele, e saiu dali.
Por muito que ele achasse melhor ficar ali deitado e deixar aquela pessoa ir-se embora, sentiu que não devia rebaixar-se àquele ponto...quer dizer...
-ouve lá - disse ele quando a alcançou na rua - mas QUEM é que tu pensas que és?
-larga-me - respondeu ela libertando-se com uma brusquidão anormalmente forte.
-não vais a lado nenhum! - e meteu-se à frente dela.
-senão o quê?!
-senão nada! Mas vais ouvir o que eu tenho para te dizer!
-não me apetece!
-temos pena!
Ela olhou-o furiosa mas conseguiu conter a raiva por uns momentos.
-eu não sei quem é que tu pensas que és..mas não tinhas o direito de me roubar a guitarra! E - continuou ele antes de voltar a ser interrompido - eu AO MENOS bati à porta da tua casa! Não me limitei a entrar pela porta e a esperar por ti no TEU quarto!
Ela continuou a olhá-lo com uns olhos enfurecidos mas no fundo não sabia o que dizer. Ele começou a caminhar de volta para a casa e ela segui-o com um olhar que ia entristecendo a cada passo.
-e a minha guitarra não é merda! - disse antes de fechar a porta com toda a força.

Sandes Maluca

Ai um ganso daltónico
Ai um ganso pateta
Porque és daltónico, meu ganso pateta ?
Se Albufeira é assim um bocado...eeeeeeeeeeeehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhadhesidnzckdmkjnzdc
Matei uma criança cheia de sarampo
E enterrei-a ao lado do primo Joel..
Este bife esta mal passado senhor Antunes..
E o robalo não esta fresco seu ganso daltónico

domingo, 11 de março de 2012

Linguado à meia-noite de sexta-feira em casa do João Guilherme

Queria comê-la, estava mesmo a apetecer
E ela sorria sem fazer
A mínima ideia de que era isso que se estava a passar

O que estava a acontecer
Era um simples impulso sedento de prazer
Que eu queria que acontecesse ali, "de hoje não podia passar"

Pensei eu enquanto me aproximava
Ela olhava
E sorria acanhadamente

Não fazia a mínima ideia sobre o que é que ela pensava
E aquela espera cansava
Estava frio e a minha perna direita já estava dormente

O que vale é que aconteceu
E que, pelo menos eu
Senti tudo o que queria viver

O que ela me deu
Naquela noite, mereceu
Tudo o que podia merecer
Não vale mesmo a pena.
Estou farto :)
Estou farto de querer mudar as coisas e ninguém me querer ajudar :)
Farto de tentar, com todas as forças que tenho, interiorizar que o que faço é o mais acertado..farto de ter dores de cabeça todos os dias por passar mais de metade do tempo a pensar em mil e uma coisas que não são necessárias.
A vida é simples, a vida é complicada..não sei. Sei que amanhã é domingo e sou capaz de ir para Aveiro para mais uma semana.
O que eu queria era sentir-me útil. Eu sei lá..eu queria ver-me a partir de outra pessoa e poder dizer "aquele bacano é fixe, é amigo, faz cenas muito fixes, curto bué o som que ele faz, as piadas dele são engraçadas, bom rapaz, bom namorado, boa pessoa, atencioso".
O que é que eu estou a fazer? Qual é a razão de não poder parar um segundo sem pensar que tenho de mudar o mundo à minha volta?
Opah sei lá..olha, não sou um gajo giro, não tenho aquele olhinho verdinho, nem aquele cabelinho super brilhante, nem aquele corpo musculado, nem aquele pele perfeita, nem nada...não sou o tipo de pessoa que se sente bem só por sair à rua porque sabe bem que ao fim do dia teve mais raparigas a olhar para ele do que erros ortográficos no teste de português...então? Onde é que ficamos?
Não sou nenhum emo que ande para aqui a magoar-se psicologicamente e fisicamente constantemente..tu já fazes isso por mim..todos os dias.
E não estou à espera que entendas :) nunca foi uma cena tua..entender..só peço que me deixem ficar com as minhas (e só minhas) borbulhas e imperfeições esmagadoramente brutais :)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A vizinha (15)

Ele entrou na casa muito a medo..tudo à volta parecia que lhe ia cair em cima a qualquer momento.
Parecia um palácio..o interior daquele casarão parecia ter sido tirado de um filme. O amplo hall de entrada, que parecia não acabar, dava uma noção do que seria o resto da casa.
Aquela grandiosidade passou-lhe despercebida por uns segundos, segundos esses em que ele fazia um esforço para "scanar" tudo à sua volta, ao mesmo tempo que abanava afirmativamente com a cabeça a cada palavra proferida pela mãe...ele estava pronto para explodir por dentro mal visse aquela rapariga perigosamente interessante.
Ele seguiu a mulher até à cozinha que fazia, no mínimo, três da casa dele e pareceu acordar quando a mãe abriu um armário que fez um ruído estridente.
-aqui está - disse ela a sorrir - podes levar o pacote mesmo...temos de sobra.
-ah...sim...muito obrigado..e desculpe o incómodo. - disse já afastando-se na direcção da porta.
-mas...mas vai já? - aquela pergunta furou-lhe a pouca coragem que lhe restava no coração. Ele estacou mesmo à frente da porta que estava a centímetros dos pés que jaziam colados no tapete.
-ainda é cedo...e eu apresentava-lhe uma pessoa...
Até a mulher, que estava a uma boa distância dele, ouviu-o engolir em seco..as pupilas de Rafael rebentaram e ele sentiu uma bomba a ser largada na cabeça..directamente da boca da mãe da pessoa que, muito provavelmente, lhe ia ser apresentada.
-sim...mas... - ele virou-se para a mãe - eu acho que vou ter de recusar...hã...tenho algumas coisas para fazer lá por casa...sabe como é... - e sorriu-lhe muito forçosamente.
-ah...é uma pena...fica para outra vez? - e olhou-o com uns olhos que pareciam desvendar todos os segredos que ele podia ter guardados.
-claro...claro... - e abriu a porta, olhou uma última vez para a mãe da vizinha e saiu para a liberdade.
O vento que lhe bateu na cara mal ele pôs os pés no exterior pareceu dar-lhe motivos mais do que suficientes para continuar a viver! Que exagero..
Caminhou, mais a correr do que outra coisa, para casa...subiu para o quarto, abriu a porta e atirou-se para a cama tendo o máximo cuidado para não cair em cima da guitarra..............?????? A guitarra????????
-o que é que foste fazer a minha casa? - ele virou-se rapidamente para o único canto do quarto que não se via quando a porta se abria totalmente...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A vizinha (14)

Depois de sentir as suas próprias mãos baterem na madeira aquecida da porta olhou à volta..o som que acabara de estalar pela sua cabeça como que o acordou, e só aí é que ele se apercebeu do que acabara de fazer.
Não era nada de especial...aliás! Ele tinha toda a razão do mundo para estar ali, à frente daquela porta, à frente da casa onde vivia a sua ladra de guitarras preferida...mas por outro lado sentiu um arrepio súbito que lhe percorreu as costas e a imagem da vizinha a abrir a porta e a olhá-lo de alto a baixo com aqueles olhos surgiu-lhe no recôndito do seu pensamento...e fez com que ele se virasse repentinamente e começasse a andar no sentido contrário ao que até então achava ser o mais correcto..
Já estava quase a sair pelo portão da casa quando, para sua grande infelicidade e terror, sentiu um ranger da porta que só podia significar sarilhos.
-sim?
A voz que pairou sobre o ar era de uma pessoa que não poderia ter a sua idade..ele virou-se e contemplou aquela que devia ser a mãe da vizinha..pelo menos os olhos absolutamente brutais da filha pareciam estar estampados na cara dela.
Ele gaguejou um pouco e aproveitou o facto de ter duas mãos para começar a brincar com elas de uma forma muito esquisita...que passou para a ingestão de saliva que aumentava exponencialmente.
-está tudo bem? - continuou a mãe que o olhava de alto a baixo e que parecia estar bastante confusa.
-está..está..tudo bem minha senhora..eu..bem...não sei como é que lhe hei-de dizer isto mas...........não terá uma chávena de açúcar que me empreste? - e olhou para ela com uma cara completamente aterrorizada.
-bem..o melhor será eu dá-la porque depois de utilizada não me será muito útil - e esboçou um sorriso..se ele não estivesse petrificado de medo perceberia a piada mas limitou-se a continuar a olhá-la com uma cara de cachorro prestes a apanhar do dono.
-ah mas é claro - continuou ela quando viu que ele não respondia - é claro que dispenso o açúcar! Não percebo o porquê dos rodeios..o menino vive na casa em frente não é? - ele acenou afirmativamente - ora essa, vizinhos são para isso mesmo. Entre, entre.
Ele arregalou os olhos quando ouviu aquele pedido tão formal que até meteu impressão..mas caga lá para a formalidade...o que metia mesmo medo era a ténue possibilidade de poder vir a cruzar-se com a ladra...
A mãe escancarou a porta e fez-lhe uma espécie de vénia, indicando-lhe o caminho para o interior...parecia ser bem fixe a mãe.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A vizinha (13)

Depois de deixar a irmã na escola veio o caminho todo a pensar no que acabara de acontecer..ia chutando em todas as pedras que lhe apareciam à frente sempre que se lembrava da figura de parvo que tinha feito à frente da irmã..outra vez..mas..por outro lado sentia uma certa curiosidade..será que a vizinha ainda lá estava? "e se estiver? também o que é que isso interessa?!"...pensou...mas sabia bem que interessava..o cérebro já não dava muita luta..pelo menos no que tocava aquele assunto.
Apressou o passo e à medida que se aproximava de casa aproximavam-se também as recordações e as imagens do sonho..um sonho que não seria assim tão facilmente erradicado da sua cabeça..ela..o sangue..tudo...enfim..
Quando chegou à rua de casa empurrou os pés para a frente com mais força mas quando viu que ela não estava no jardim sentiu que uma pedra, maior do que todas as que tinha chutado à vinda para casa, lhe tinha caído em cima do coração..um peso enorme abatera-se no interior do seu corpo..mas o que o incomodava não era isso..não era o peso..o que realmente o incomodava era o simples facto de ele não saber o porquê de estar assim..afinal..ela roubou-lhe a guitarra! A única coisa que ele deveria sentir era uma raiva ardente e não..e não um..interesse..
Foi para casa com a moral completamente em baixo..sentia-se revoltado..por mais que tentasse puxar a mente para outro assunto que não envolvesse a vizinha...não conseguia.
Subiu até ao seu quarto e mandou-se para cima da cama..então mas que merda de férias são estas? Ao menos que desse para descansar uma beca..problemas para a cabeça já chegavam em tempo de aulas não?!
Levantou-se do nada e caminhou para a janela, espreitou directamente para o quarto dela mas não a viu...estava tudo calmo demais. Ele só queria um movimento, um esvoaçar de cabelos, um cintilar de olhos brilhantes...esverdeados..
Fixou o olhar no sol que estava de novo em pulgas para queimar a pele e a paciência às pessoas...e reparou que não havia mesmo nada para fazer..."fodasse!" pensou e caminhou para a porta do quarto...depois caminhou para a entrada...depois atravessou a rua...depois entrou no portão da casa da vizinha...depois bateu à porta...depois...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A vizinha (12)

O pai ficou uns segundos a olhar e a apontar para a guitarra..Rafael não fazia a mínima ideia do que vinha aí por isso limitou-se a olhar para a vizinha que já tinha reparado que, naquele momento, era o centro de todas as atenções.
-mas aquela...não é a tua guitarra? - concluiu o pai que fazia um esforço mental para recordar o aspecto da prenda que tinha dado ao filho no Natal de há dois anos...Rafael gaguejou.
-bem..é da mesma marca sim.. - tossiu quando acabou a frase para tentar disfarçar a mentira e o medo que havia no seu tom de voz.
-tem bom gosto a vizinha - disse o pai desviando finalmente o olhar para Rafael que tinha uns olhos esbugalhados e um sorriso muito forçado.
-pois...parece que sim - e olhou com um olhar furioso para a rapariga sentada no cadeirão...estava farto daquele "bom gosto".
-bem..mas não te esqueças de cortar ali no canto - terminou o pai apontando para o jardim.
Ele despediu-se do filho e a seguir foi a vez da mãe fazer o mesmo tirando de um canto do seu cérebro a infinita lista de tarefas para o filho fazer...já que ele ia ficar em casa sem fazer nenhum...
Rafael tinha de ir levar a irmã à escola mas ainda havia tempo suficiente para acabar de cortar o jardim..e ia estar a ser constantemente observado por um "público" que o irritava profundamente.
Já estava quase a acabar quando ouviu cordas metálicas soltarem acordes estranhamente perfeitos para o ar..virou-se como uma flecha e direccionou o olhar para a vizinha que tocava na sua guitarra..tinha-a no meio das pernas e por isso era uma beca difícil ele ignorar as pernas perfeitas que..."perfeitas? quer dizer...também não são assim nada de especial!" gritou ele dentro da sua cabeça, tentando ao máximo contrariar o que verdadeiramente pensava "mas verdadeiramente o quê?!?" ..
O olhar que ela lhe mandava era completamente provocador..enquanto os tons melódicos e demasiadamente apetecíveis rasgavam o vento à sua passagem ela mordia os lábios estupidamente perfeitos "lá tás tu!" pensou outra vez e abanou a cabeça com força..mas ela continuava ali quer ele quisesse quer ele não quisesse..e a verdade é que tinha um olhar de puro prazer enquanto percorria a guitarra com as mãos e com a alma.
Ele desligou a máquina para poder ouvir melhor..ela contorcia-se à medida que as notas se tornavam mais agudas e ele não sabia porque é que avançava pelo jardim em direcção à rua que separava as duas casas..aquela miúda não existe..
Ele aproximou-se ainda mais e ela olhava-o..os olhares cruzaram-se e gritavam..queriam estar muito mais perto..tão mais perto..a respiração dele aumentava assim como o ritmo dos sons estonteantes que a guitarra soprava magicamente...a guitarra gemia cada vez que ela lhe tocava e ele sentia que
-maninho?
Ele virou-se e viu a irmã que estava com a mochila às costas e a olhar para ele, novamente com os olhos esbugalhados..a olhar para aquela situação..já não bastava vê-lo a lamber almofadas -.-'
-ei.. - ele engoliu em seco..a música tinha parado - está..está tudo bem ?
-levas-me à escola? - perguntou ela sem tirar os olhos dele e a mexer nervosamente as mãozitas.
-sim...sim..já está na hora? Nem vi o tempo passar ahah..hã..vamos lá então - e deu-lhe um sorriso desesperadamente forçado.
Saiu de casa com a irmã, foi para a rua e passou mesmo ao pé do jardim da vizinha..ela segui-o com o olhar mas ele não se atreveu a olhar mais..
WTF?

A vizinha (11)

Ele entrou em casa e dirigiu-se à cozinha para mais um almoço em família, em que as notícias desastrosas e sensatamente alarmantes do país enchiam a maioria do tempo...a televisão enchia-se de merda, era o que era.
Depois de almoçar com um silêncio profundo como música de fundo decidiu ir sentar-se no banco que tinha no jardim...descansava e depois retomava o que estava a fazer antes da irmã o interromper.
Caminhou para o jardim e lembrou-se de que algo lhe faltava..voltou a lembrar-se da guitarra e de como lhe apetecia tocar e cantar naquele momento...chegou ao jardim e acabou por se sentar no banco que ficava mesmo na ponta do mesmo.
Depois de se ter instalado e de sentir uma vontade extrema de percorrer o seu instrumento musical preferido com os dedos, pensou que faria de tudo para saber o porquê da vizinha o ter roubado..olhou de relance para o jardim da casa dela mas este estava completamente vazio..não havia sinais dela.
Estava tudo muito silencioso, a casa deixava apanhar-se pelo vento que começava a levantar..ele olhou para o céu e parecia mesmo que o tempo ia mudar..ao longe já se conseguiam umas nuvens a aproximar-se..era pena, nos últimos dias o tempo tinha sido tão agradável.
Quando Rafael voltou a olhar para a casa da vizinha, mais propriamente para o jardim, reparou, para sua surpresa, que ela estava sentada no cadeirão que ainda há pouco estava "sozinho".
Trocaram olhares, ora de raiva ora de interesse...mas a raiva que podia percorrer as pupilas dele escancarou-se quando ele reparou na presença de mais alguma coisa..a sua guitarra estava deitada mesmo ao lado da vizinha, deitada no jardim da sua relva..e a a rapariga tão estranha olhava, sem qualquer reacção, para os olhos dele..desta vez estava sem os óculos escuros que lhe conferiam um mistério desagradável..
Dava mesmo para ver para onde é que ela olhava...e não restava qualquer dúvida de que os olhos dela percorriam os dele com uma ferocidade incrível...
Ele olhou mais uma vez para a guitarra..levantou-se enquanto ela seguia o movimento com o olhar..e depois..quando decidiu que estava na hora de ir tirar explicações em relação ao "furto"
-depois não te esqueças de cortar ali - disse uma voz do nada..era o pai que apontava para a parte mais longínqua do jardim - temos vizinhos novos não é - e acenou para a casa e para a rapariga no jardim.
-pois..parece que sim.. - respondeu ele com um medo na voz por o pai poder reparar na guitarra que jazia aos pés dela.
-então...mas aquela guitarra...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A vizinha (10)

Ele olhou para a irmã que continuava com uns olhos arregalados e uma expressão de puro terror...
-eu...eu estava...deves ter visto mal - e deu um sorriso muito mal disfarçado.
Ela continuou especada, sem sair do sítio e com o olhar que vagueava entre a almofada e o irmão...entre a almofada e o irmão...
-bem...-continuou ele esticando os braços, olhando de seguida para a janela e para mais um dia de sol e céu limpo - dormi bem e tu? - ela abanou a cabeça em sinal afirmativo mas sempre com um olhar muito carregado e desconfiado.
Depois de ficarem uns segundos a olhar um para o outro ela decidiu sair do quarto sem lhe dizer nada...ele atirou a cabeça para a almofada..."que cena" pensou ao mesmo tempo que olhava para o tecto e recordava o sonho de há momentos.
A cara dela apareceu-lhe à frente..o sangue...tudo! E ele recordou o sonho..tal e qual...como se tivesse lá estado mesmo...a viver aquilo..
Levantou-se e caminhou para a janela na esperança de poder vê-la, sentada de novo no cadeirão, a cantar ou a tocar...! Tinha esquecido por completo o facto de ela ter estado a usar a sua guitarra! Qual gajos dos camiões! qual carapuça Era ela, a miúda completamente estranha (mas um estranho bom), a roedora de pastilhas, de olhar enojado...era ela que empunhava a sua guitarra que ele pensara ter sido roubada...e tinha...quer dizer..
-estás bem? - Rafael virou-se muito repentinamente para a porta do quarto onde se encontrava a mãe.
-sim..estou..porquê? - a mãe olhou o quarto de uma ponta à outra sempre com aquele olhar do tipo "isto bem que podia estar muito mais arrumado".
-nada...a tua irmã - as pupilas dos olhos dele aumentaram num ápice e um arrepio percorreu-lhe o corpo - disse que te tinha vindo acordar...e já que estás aí vai cortar a relva..aquilo já está mais do que na hora de ser cortado.
Rafael não suspirou de alívio por ela ali estar, mas sentia-se muito mais descansado por a maninha não ter dado com a língua nos dentes...e era verdade...aquele jardim já estava na hora de levar uma boa aparadela.
Vestiu-se, desceu as escadas que davam para o rés-do-chão da casa e foi tomar o pequeno-almoço. No caminho ainda encontrou a irmã a ler o capuchinho vermelho..olhou para ele com mais um olhar absolutamente reprovador e voltou os olhos de novo para o livro que tinha sido do irmão há tanto tempo.
Pegou numa taça, cereais e leite..depois limitou-se a levar o pequeno-almoço à boca de uma forma irritantemente vagarosa..olhava lá para fora e via os raios de sol a percorrerem um jardim que dizia "CORTA-ME POR AMOR DE DEUS!"
Acabou de comer, foi lá para fora e depois de procurar o corta-relva, que demorou uma !eternidade!, preparou-se para devastar o jardim! Deixá-lo a brilhar.
Já estava de volta de todas aquelas flores e ervas daninhas há algum tempo..a aproximação da hora do almoço fez com que um sol impiedoso lhe começasse a queimar a pele..a cabeça escaldava e o suor começava a cair-lhe da testa para a face.
A dado momento olhou para a casa da vizinha e parou de andar para a frente com o corta-relva..a miúda estava no (muito maior) jardim da sua casa, deitada num cadeirão.."até no jardim? -.-' " pensou Rafael.
Ela estava com uns óculos de sol que não deixavam ver para onde o seu olhar se dirigia..
-maninho..a comida está na mesa - a irmã chamava-o da entrada.
Ele desligou o corta-relva, deu mais um olhar à vizinha e desapareceu...ela tirou os óculos de sol, fez uma cara de amuada e correu também para o interior da sua casa.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A vizinha (9)

A noite passou-se, recheada de sonhos...mais pesadelos do que outra coisa...desta vez não estava a ser perseguido por algo absolutamente desconhecido mas sim a olhar directamente para dois olhos esverdeados que o descortinavam completamente como se um laser saísse deles...ele fazia um esforço tremendo para que o seu olhar desprendesse daqueles olhos cintilantes...mas não conseguia.
Depois, como se nunca tivesse sido difícil fazê-lo, direccionou os olhos para uns lábios perfeitos que eram mordidos por dentes mais brancos que o próprio marfim...mas quando voltou a mandar ao cérebro que o seus olhos olhassem directamente nos dela...um leve e tão macabramente lindo jorro de sangue começou a sair deles...esguichava para a frente e para os lados...e ele sorria, não sabendo bem porquê, enquanto o sangue saltava para a sua cara e coalhava quando tocava na sua pele...
Ele aproximou-se dela que, por incrível que parecesse, mantinha os olhos abertos e um sorriso magnífico enquanto que aquele fluído vermelho jorrava para todo o lado numa quantidade perigosamente exagerada...ele quis beijá-la...e não sabia bem porquê...o mais sensato a fazer era ligar para o 112 ou assim...visto que uma rapariga mesmo à sua frente se estava a esvair em sangue...dos olhos..
Ele aproximou-se mais um pouco e podia sentir o calor daquele sangue que, só por ser dela, o deixava completamente ..
Ela continuava imóvel mas com um sorriso de orelha a orelha, indiferente ao sangue que era cada vez mais abundante...ele aproximou-se da boca dela..e sentiu um calor estranhamente doce....foi a vez dela se aproximar dele...
Ele fechou os olhos e começou a tocar com o seu nariz no nariz dela enquanto o sangue lhe caía para a cara como uma fonte incessante..ela continuava a sorrir...ele beijou os lábios dela recheados de sangue e sentiu um animal a rugir no seu interior...esquece lá as tais borboletas...era algo muito MUITO maior que isso...
Ele lambeu-lhe os lábios que estavam mais vermelhos do que nunca...agarrou-lhe no cabelo dourado que, por artes mágicas ou outra coisa qualquer, estava cinzento...
Ela gritou ! AHHHHHHHHHHHHHHH!
Ele sentiu uma arrepio muito forte e acordou...já era de manhã..e a irmã estava aos pés da cama com uma cara super assustada..
-porque é que estavas a lamber a almofada maninho?

A vizinha (8)

Ele ficou um pouco a olhar para todo aquele cenário..uma miuda à janela, com um pijama da hello kitty mas que, por incrivel que parecesse, era uma hello kitty que parecia ter estado a ingerir quantidades demasiado abundantes de droga: tinha olheiras, uma t-shirt (não cor-de-rosa) dos Nirvana, e por baixo tinha hello kitty escrito num preto carregado em que o "o" pendia como que enforcado dando lugar a um HELL KITTY muito assustador..brutal *.* ela estava sentada num cadeirão majestoso, adornado com coisinhas brilhantes que bem podiam ser pedras preciosas..dinheiro não lhe faltaria decididamente...o cabelo dela esvoaçava à brisa vespertina daquele dia tão diferente e ela fazia um esforço tremendo para afastar, com solavancos fortes de cabeça, o cabelo dourado que insistia em meter-se à frente...
Os olhos, do verde mais lindo que ele alguma vez vira, percorriam com uma atenção desajustada as cordas metálicas da guitarra..os lábios carnudos a serem constantemente mordidos tal não era a importância que ela dava àquela música linda...
Por muito que ele quisesse continuar a babar-se para toda aquela imagem..a guitarra..a guitarra de onde saía aquele som brilhante e tão refrescante, acompanhado por umas cordas vocais perfeitas...era...era a guitarra dele...era a guitarra dele!
-é a minha guitarra... - disse ao de leve, mas preferia ter estado calado...assim que proferiu aquilo dois olhos brilhantes encontraram-no no meio do escuro com uma rapidez infalível.
Ela parou de tocar e de cantar..continuou a olhar para ele que retribuía um olhar que passou de medo para ódio num ápice...
-o que é que a minha guitarra está ali a fazer? - disse mais para ele próprio do que para outra coisa.
-desculpa? - ela levantou-se e encostou-se ao parapeito da janela, levando consigo a guitarra colada na mão direita. Ele não sabia o que dizer.
-essa guitarra... - apontou para a sua menina meio a tremer - é bonita. - e sorriu muito desajeitadamente.
-eu sei...tenho bom gosto - ela entoou aquilo de uma forma muito irónica e deu-lhe um sorriso ainda mais provocador. Mais uma vez ele não sabia o que devia sair da sua boca, por isso limitou-se a dizer.
-é verdade..tens bom gosto. - e dito aquilo da forma mais triste possível, deu-lhe um sorriso demasiado fraco e fechou a janela deixando-a sozinha, no meio da noite..ela franziu a testa e olhou para a guitarra uma última vez antes de fazer o mesmo que ele.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A vizinha (7)

Percorreu mais uma vez a casa da sua nova vizinha com um olhar desconfiado e caminhou para a rua...tentou ao máximo ver movimentos no interior da casa, no jardim...mas estava tudo calmo demais...
Começou a andar em direcção à escola da irmã. De mãos nos bolsos e a pontapear todas as inocentes pedras que lhe apareciam à frente, só com a guitarra no pensamento...ele não estava nada preocupado com o facto de ter de dizer aos pais que perdera algo tão dispendioso, ele estava muito mais preocupado com o simples facto de aquele pedaço de madeira lhe ter fornecido os melhores momentos da vida dele..foram demasiados e muito especiais para se porem de lado de um momento para o outro...mas afinal como é que ela desapareceu? Alguém a roubou...os...os camiões...os gajos dos camiões...
Rafael parou por momentos e ficou no meio da estrada a pensar que o mais provável era isso ter acontecido! Mordeu o lábio com tanta força que acabou por fazer sangue...mas continuou a olhar para a frente e retomou os passos...a irmã já devia estar à sua espera.
Depois de ter ido buscar a irmã foi para o quarto. Já era de noite...mas nem a noite, com as suas estrelas e com a sua lua impressionantes o conseguiam mudar...o humor, a cabeça e a vontade de partir camiões continuavam os mesmos desde a tarde.
Atirou-se novamente para a cama e sentiu, por momentos, que tudo estava bem..tentou fazer um esforço exagerado para manter aquela sensação mas apercebeu-se que era inútil...continuou a olhar para o tecto...inspirou fundo e deixou que o ar lhe saísse da boca da forma mais barulhenta possível.
Tinha-se esquecido completamente de que tinha uma vizinha nova...toda aquela confusão em torno da guitarra tinha feito com que ele esquecesse de que tinha, mesmo à sua frente, uma das miúdas mais giras que ele alguma vez tinha visto em toda a sua vida...levantou-se e caminhou para a janela..
A sua casa era tão próxima da dela que se ela estivesse a ouvir música com um volume moderadamente normal ele ouviria e saberia distinguir a banda, música, ano de edição, etc etc...mas as luzes estavam apagadas..ele tinha-a visto na janela que ficava mesmo virada para a dele...se o quarto dela fosse aí...ainda melhor.
Rafael desistiu e voltou as costas à casa gigantesca para enfrentar de novo a culpa de ter perdido a guitarra quando de repente um som demasiadamente conhecido lhe entrou pelos ouvidos...o som vinha da casa da vizinha e era uma música...VCR...dos The XX...( http://www.youtube.com/watch?v=9i-MgYAYTuU&feature=related ) ... ele adorava aquela música..mas ela não parecia sair de nenhum computador...ou rádio...parecia estar a ser tocada ao vivo.
Voltou a virar-se para a janela e viu que, desta vez, as luzes da janela dela estavam acesas...e ela estava ali...com a janela aberta...com uma guitarra nas mãos...a tocar e a cantar uma das músicas preferidas dele...com uma guitarra muito particular

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A vizinha (6)

Ele fugiu do jardim tão depressa que nem se lembrou da pobre guitarra.
Correu pelas escadas abaixo tendo desta vez tropeçado no sétimo degrau..o sol, que até então estava a tentar queimar tudo o que conseguia, preparava-se para ir dormir uma beca, e a hora de ir buscar a irmã à escola aproximava-se.
Depois de correr tudo o que tinha a correr susteu um leve grito ao reparar, para seu enorme espanto, na ausência da sua menina...ele ainda olhou à volta mas não havia sinais da presença de qualquer instrumento musical nas mais remotas proximidades...
Não fazia a mínima ideia do que tinha a fazer...a cabeça rodava...era a primeira vez que aquilo lhe acontecia até porque a guitarra sempre fora mais importante do que o telemóvel , ou a carteira, ou...
As mãos tremiam-lhe e começavam a ficar suadas...olhou para o relógio num impulso demasiado repentino e reparou que estava na hora de ir buscar a irmã...voltou a fazer um scan com uns olhos ao jardim para voltar a arquear as sobrancelhas em total desespero.
Saiu para a rua e desviou o olhar para a janela da casa que pertencia à sua nova vizinha..mas ela não estava lá desta vez...
Foi buscar a irmã

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A vizinha (5)

Ele não estava lá porque já tinha corrido, tendo inclusive tropeçado no décimo primeiro degrau que dava para o 1º andar da casa, atirando-se de seguida para a janela do seu quarto que ficava mesmo virado para a casa que recebia visitas novas naquele dia.
A casa era enorme e já há uns bons anos que estava para venda, pudera, um casarão daqueles ainda devia custar um dinheirinho valente...aquela família tinha de ser bem rica.
Ele viu-a dar a olhadela ao jardim no sítio onde ele acabara de desaparecer..depois entrou..e ele ficou por uns momentos a olhar para o céu lindo que parecia trazer novidades...e que novidades.
Atirou-se para a cama..ficou algum tempo a olhar para o tecto azul que contrasteava com o céu lá fora e sorriu sem saber bem porquê.
Pareceu ter acordado de um sonho longínquo e demasiadamente longo quando ouviu os camiões a acordar na rua...deu um salto que o meteu de imediato colado à janela e conseguiu ver os "pais" a acenarem às enormes dispensas rolantes que se afastavam dali...mas ela não andava por ali..
Quando vasculhava tudo quanto era sítio com o olhar recuou a cabeça para trás quando reparou que um par de olhos cintilantes e esverdeados o olhavam da janela no primeiro andar...era ela...ele atirou-se para o chão de uma maneira muito disparatada mas sabia muito bem que ela o tinha visto...depois começou a bater com a cabeça na parede gelada...."pera..pera aí? A minha guitarra?!"

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A vizinha (4)

Por momentos ainda pensou que "aquilo" que tinha acabado de sair do carro era uma luz qualquer que lhe queimava os olhos, teve o impulso imediato de colocar a mão direita na testa para ter a certeza de que o sol não lhe estava a trocar as voltas.
Nunca na vida pensara que ninguém escapasse impune quando lhe riscavam a guitarra ou quando batiam com ela em algum lado...mas ele parecia nem ter notado que acabara de a largar no meio do jardim...
O homem e a mulher mais velhos falavam com os senhores que tinham descarregado tudo para fora dos camiões..estava na hora de carregar tudo para os devidos lugares no interior da casa. Todos se começaram a dirigir para a porta principal..à excepção da rapariga que tinha acabado de sair do carro e que olhava para toda aquela situação com uma cara enojada...Rafael ficou a olhar para ela.
Tinha uma franja loira que lhe caía mesmo por cima do olhos mais verdes e mais bonitos que ele alguma vez tinha visto. Mascava freneticamente uma pastilha elástica enquanto mexia no mp4 e ajeitava os fones enormes nos ouvidos...parecia ter a mesma idade dele...aquela roupa...bem, digamos que era difícil não olhar para aqueles mini-calções ou para aquela t-shirt dos Ramones *.*
Ela parecia um tanto perdida, olhava em todas as direcções sem estar muito tempo a olhar para o mesmo sítio...já todos tinham entrado na casa quando ela ainda estava à beira do carro, agarrada ao mp4.
De repente olhou para a casa de Rafael e ele conseguiu ver os olhos dela varrerem a casa de uma ponta à outra...até chegar a ele.....ficou mais tempo a olhar para ele do que para todas as outras coisas...ele engoliu em seco, mas não conseguia desviar o olhar.
Passado uma beca ela voltou a enterrar-se no mp4 e começou a andar, muito vagarosamente, para a porta principal...antes de entrar para dentro olhou de novo para o jardim de Rafael...mas ele já não estava lá.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A vizinha (3)

Ele saiu de casa e acompanhou a irmã à escola.
Pelo caminho foi-lhe explicando as mil e uma razões que tinha para que ela não ouvisse Justin Bieber e que se concentrasse mais em Radiohead e Blur..ela acenava a cabeça em sinal afirmativo mas dois minutos depois lá começava a cantarolar "Béby Béby Bébi ó!" ou "Ai se eu ti pégo! Ai Ai..."..ele sabia que um dia ainda lhe conseguiria dar a volta.
Depois de a deixar na escola voltou para casa..não tinha nada para fazer, estas seriam umas mini-férias em que o computador iria fazer o máximo para que ele se mantivesse minimamente entretido..
O calor daquele dia parecia não dar sinais de diminuir e já há alguns meses que as chuvas não deixavam o sol respirar por um segundo que fosse..era bom sentir aquele calor a bater-lhe na cara..
Chegou a casa, atirou-se novamente para a cama mas pensou que aquele dia não lhe podia desaparecer por entre os dedos..pegou na guitarra e foi para o jardim..mal abriu a porta o calor inundou-lhe o corpo e uma sensação reforçada de contentamento atingiu-o como um raio. Caminhou para o jardim e sentou-se no meio de todas aquelas ervas e flores e cenas que já estavam na altura de serem cortadas...
Já estava há algum tempo a dedilhar as cordas de ferro da acústica quando viu um camião aproximar-se..a rua tinha estado deserta até então, por isso ver um camião gigantesco a aproximar-se, com outro atrás...era ruído e movimento a mais. Levantou-se e olhou melhor para a confusão que lá vinha.
Os camiões aproximavam-se cada vez mais da casa dele e, quando Rafael deu por si, estava com dois camiões a taparem-lhe o sol...ficou a ver a cena a uns metros de distância e só depois se apercebeu que, possivelmente, alguém tinha a comprado a casa que estava para venda...mesmo em frente à sua.
Quatro homens, dois de cada camião, começaram a descarregar as coisas todas..móveis, tapeçarias...e só uns bons trinta minutos depois é que conseguiram tirar tudo lá de dentro...quando estavam mesmo a tirar o último cadeirão surgiu um carro no fundo da rua...deviam ser os proprietários.
O carro parou.
Saiu uma mulher...e depois um homem...pareciam ter a idade dos pais dele ...mas, tinha saído mais alguém...a guitarra caiu no meio de todas aquelas ervas e flores e cenas que já estavam na altura de serem cortadas...

domingo, 22 de janeiro de 2012

A vizinha (2)

O pesadelo abalara-o por uns momentos mas quando dirigiu o olhar já habituado à luz carregada que se ia cravando na cara sorriu ao ver que o dia estava lindo. O sol preenchia de luz um céu limpo de Janeiro que lhe deu uma enorme sensação de alegria.
Passou a mão pelo cabelo já tão habituado a não ser penteado, levantou-se num pulo da cama e sentiu uma ligeira tontura que lhe passou de imediato...realmente a mãe tinha razão, já era quase uma da tarde...desceu as escadas que davam para o rés do chão e caminhou até à casa de banho a cambalear, quem não soubesse confundi-lo-ia por um zombie com toda a facilidade.
Depois foi para a cozinha onde já se encontrava a família toda de olhares postos nas notícias mais estúpidas e estapafúrdias que vinham a preencher a televisão nacional há já algum tempo..sentou-se na sua cadeira e bebeu de um trago um copo gigantesco de água.
-Já era hora de acordar não achas? - continuou a mãe que ainda não estava satisfeita com o que começara a dizer há pouco. Rafael pegou num pedaço de pão e começou a mordiscar.
-A tua mãe falou para ti. - disse o pai que não tirava os olhos da televisão.
-Acho - respondeu Rafael de forma demasiadamente evasiva.
-Eu li que "deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer"! - disse do nada a irmã mais nova. Aquele espaço do dente da frente que lhe tinha caído há uns dias dava-lhe um ar adorável.
-E nunca te esqueças disso. - disse Rafael enquanto lhe penteava o cabelo dourado e lhe sorria.
O almoço continuou...mas aqueles dias já não eram os mesmos...a crise, as tretas, os salários...tinham transformado aquela família. Já era raro haver risos quando estavam todos juntos.
António, o pai, sempre carrancudo por trabalhar demais e receber "demenos", 40 anos e só queria partir os cornos a certos meninos e meninas que "governam" o país. Sempre foi uma pessoa feliz e extremamente extrovertida...mas estes tempos não ajudavam...
Laura, a mãe, cada vez mais controladora por saber que os tempos iam apertando...40 anos e só queria dar o máximo aos filhos...garantir o melhor futuro possível.
Rita, a irmã pequenina e adorável que Rafael estava sempre SEMPRE pronto a defender...6 anos mas mais perspicaz do que muitos.
O almoço acabou..o pai e a mãe foram trabalhar...e ele tinha de ir levar a irmã à escola primária que ficava a uns minutos da casa deles...

sábado, 21 de janeiro de 2012

A vizinha (1)

Estava a ser perseguido por alguma coisa.
O frio e o vento contrasteavam com a floresta negra e completamente assustadora que desfilava à sua frente.
Ele não fazia a mínima ideia do que é que corria atrás dele mas sentia que se aproximava...aproximava...aproximava...não parava.
O coração pulava enquanto o cérebro pensava em tudo e mais alguma coisa...as all star enterravam-se nas poças lamacentas que o impediam de correr mais depressa...a respiração acelerava a cada passo que dava...
De repente avistou uma passagem por entre dois carvalhos que dava para um descampado...e ao fundo uma quinta! Correu imediatamente para lá sem pensar duas vezes e pela primeira vez conseguia sentir os raios de luz da lua a baterem-lhe no rosto.
Correu desenfreadamente pelo descampado sempre sem olhar para trás, a chuva fustigava-o dando àquela noite um tom ainda mais sombrio...depois sentiu passos atrás dele...algo tinha acabado de passar pelos carvalhos...
Continuou a correr...nunca na vida tinha corrido tanto e ele achava que não era, de todo, altura para parar...por momentos pareceu ouvir gemidos mesmo ao pé do ouvido direito e, por artes milagrosas, os seus pés ganharam novo ímpeto e começaram a mandá-lo para a frente com uma força extraordinariamente exagerada.
Estava prestes a chegar ao portão do celeiro da quinta quando lhe pareceu ouvir uma voz conhecida...parecia ser a...mãe? A voz dizia...dizia...raFAEl...RAfaeL...RAFAEL!!!
A quinta tinha desaparecido, o descampado também, a lua tinha dado lugar a um sol que entrava pela janela do quarto e lhe magoava os olhos...
-Rafael! Lá por teres acabado os exames não quer dizer que tenhas de dormir até tão tarde! Vem almoçar! - a voz da mãe ecoou pela casa. Ele sentou-se na cama completamente suado e depois voltou a atirar-se para a almofada com um sorriso nos lábios por saber que, pelo menos ali, não teria nada a correr atrás dele...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Chocapica

A cena mais linda de todas é que por mais que eu queira nunca vou conseguir fazer o que quero fazer, e o motivo ou talvez, para tentar ser mais correcto, a razão que me leva a dizer isso é tão simples que acaba por me obrigar a coçar o cima da minha cabeça com tamanha força que muitas das vezes faço sangue..eu gosto de ti e o problema está exactamente nessas quatro palvras que eu escrevo em dois segundos mas que me obrigam a pensar durante muito..muito tempo.
Muitas das vezes dou por mim a pensar que seria mais fácil se chegasse ao pé de ti e te dissesse não é? Talvez fosse muito mais fácil e vejamos, não era? Então eu pergunto com todo o carinho e afecto que tenho pela dignidade e inteligência humanas: porque é que não é? Existem regras? Existem certos motivos que levam um rapaz ou uma rapariga a não dizerem o que querem dizer a quem querem dizer? Muitas pessoas referem-se a esse problema mundial com o típico "não tens colhões" ou "se fosse eu", mas será que conseguiriam fazer em vez de falar para o ar que comem situações dessas ao pequeno-almoço? É isso que acaba por ficar retido no nosso pequenino cérebro de envergonhaditos e de pessoas que sorriem a medo tal e qual os cães por que passamos na rua e pensamos "se ele soubesse que tem uns dentes que podiam arrancar-me nacos de carne com tanta facilidade"...olhamos para essas pessoas que se dizem totalmente e irrevogavelmente conhecedoras de mulheres e de homens, e das palavras correctas a proferir, e...eu, pelo contrário, admito que não entendo muito do sexo oposto, são seres que me dão voltas desconcertantes e por mais que eu me esforce por tentar perceber acabo sempre num sítio muito obscuro da minha mente, rodeado de meninas nuas ou com roupas muito desajustadas...o que nem é tão mau quanto isso...mas enfim...queria só acabar por referir que tamanha ilusão do destino, tamanha safadeza da mente...como é que eu me hei-de explicar? Não será o tamanho desprezo que me fará desisitir porque já há muito desisti de ter o que quer que fosse, porque, pelo que me apercebi, quanto mais quero menos consigo (o que quer que seja), por exemplo, ainda no outro dia me apetecia muito chocapic...eu não tinha na dispensa..então fui comprar à loja, mas a loja estava fechada...bem, a única loja para além daquela encontrava-se a alguns quilómetros do sítio onde eu me encontrava, portanto não seria de todo uma boa ideia pegar na bicileta e ir para lá..ou seria? Foi o que fiz mas no caminho um carro passou rente a mim mas mais rente a uma poça de água que por ali se encontrava..a água pulou de pura satisfação para cima mim e eu vi-me obrigado a voltar para trás com uma cara de perfeito anormal, super amuado e a fazer beicinho. Durante o resto do dia não quis, sequer, que se fizesse ouvir pela casa a palavra "chocapic" de tão furibundo que estava..não iria querer mais chocapic na minha vida, nem nada que se parecesse...o que é certo é que nesssa tarde a minha mãe voltou do trabalho e, juntamente com o resto das compras, vinha também um pacote que brilhava à luz do sol que já queria ir dormir....!chocapic! a minha mãe nunca mais foi a mesma...ver-me a destruir com as minhas próprias mãos um pacote de chocapic... definitivamente não lhe ocorria que pudesse vir a acontecer...isto tudo para dizer o quê? Não sei bem...mas foi uma espécie de comparação..não posso andar atrás de ninguém..não andem atrás de ninguém..as coisas acabam por vir a vocês..as pessoas acabam por vir até onde vocês andam..é claro se eu der este conselho a toda a gente nunca ninguém avançará primeiro..e aí teríamos um problema grave...porque..ninguém...olha esqueçam...eu vou ficar à espera da minha "chocapica" xD

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Rafael - Parte 1

A carrinha avança para o penhasco e o vento corta aquela paisagem inocente, quem diria que as coisas chegavam a este ponto? Que a vida giraria desta maneira? Que ele se afastaria mesmo que não se quisesse afastar…a verdade é que as coisas mudam, as pessoas mudam, as ideias mudam, os sentimentos mudam. Isso aconteceu, muito…demasiado talvez. Mas agora a carrinha não pára, está de novo prestes a cair para as rochas…lá em baixo. A noite escurece mais a cada momento que passa e já tudo dorme, o silêncio é cortado pela água do lago a bater nas rochas lá em baixo.
Ao longe ouvem-se barulhos irreconhecíveis de vida adolescente, das fogueiras a crepitar à luz da lua cheia. Mas ali é como se nada disso importasse, é como se fosse tudo mais puro…até o ar era mais leve, até a simples brisa parecia trazer apenas os sorrisos das estrelas distantes…
Não vai ninguém a guiar, o travão de mão está livre assim como a pessoa que vai deitada na parte de trás da carrinha, a olhar para o céu cheio de oportunidades, com aquele olhar selvagem recheado de adrenalina furada pelo que aconteceu…uma pessoa nova definitivamente, bem, é a mesma pessoa…mas há mais brilho no olhar, mais vida no coração.
Não há mais nada à nossa frente a não ser uma estrada, uma carrinha amarela e uma vida de oportunidades…não é?

domingo, 1 de janeiro de 2012

depois fomos embora

Uma vez dei um beijo a uma rapariga que odiava profundamente.
Eu odiava aquela pessoa por motivos que ninguém pode imaginar...estava sempre a ralhar comigo, estava sempre a corrigir-me, estava sempre...e era da minha turma.
Num dia houve mais um desatino completamente incompreensível..e a verdade é que eu não estava nem com cabeça nem com pachorra para aturar aquilo..."não sabes fazer nada mesmo! só falar de coisas que não percebes!" mandava ela para o ar, e pela primeira vez eu estava calado...não disse uma única palavra e ela não conseguia fingir o olhar confuso à medida que me mandava à merda...
A dada altura virei-lhe as costas...e, sempre sem dizer uma palavra, afastei-me...por momentos senti uma pausa no discurso enfadonho que ela me estava a dar e depois um puxão que me apanhou de surpresa pela força com que tinha sido utilizado...estava agora a milímetros da cara dela e..ela até era gira...nunca tinha reparado assim, estava preocupado em discutir com ela para me aperceber disso..."tu és um puto de merda! vê lá se cresces........." puxei-a para mim com toda a força e beijei-a..o beijo mais agressivo que alguma vez dei a alguém...
No fim ela olhou para mim com uns olhos cheios de pontos de interrogação e com um ar de absoluta incompreensão...depois levei a maior chapada dada por uma rapariga...ainda hoje me dói...ela deu-me a chapada, olhou para mim furiosa e depois puxou-me para ela e beijou-me da mesma forma...
Andei com ela o tempo que quisemos andar...curtimos tudo o que tínhamos para curtir...e depois fomos embora x)