domingo, 22 de janeiro de 2012

A vizinha (2)

O pesadelo abalara-o por uns momentos mas quando dirigiu o olhar já habituado à luz carregada que se ia cravando na cara sorriu ao ver que o dia estava lindo. O sol preenchia de luz um céu limpo de Janeiro que lhe deu uma enorme sensação de alegria.
Passou a mão pelo cabelo já tão habituado a não ser penteado, levantou-se num pulo da cama e sentiu uma ligeira tontura que lhe passou de imediato...realmente a mãe tinha razão, já era quase uma da tarde...desceu as escadas que davam para o rés do chão e caminhou até à casa de banho a cambalear, quem não soubesse confundi-lo-ia por um zombie com toda a facilidade.
Depois foi para a cozinha onde já se encontrava a família toda de olhares postos nas notícias mais estúpidas e estapafúrdias que vinham a preencher a televisão nacional há já algum tempo..sentou-se na sua cadeira e bebeu de um trago um copo gigantesco de água.
-Já era hora de acordar não achas? - continuou a mãe que ainda não estava satisfeita com o que começara a dizer há pouco. Rafael pegou num pedaço de pão e começou a mordiscar.
-A tua mãe falou para ti. - disse o pai que não tirava os olhos da televisão.
-Acho - respondeu Rafael de forma demasiadamente evasiva.
-Eu li que "deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer"! - disse do nada a irmã mais nova. Aquele espaço do dente da frente que lhe tinha caído há uns dias dava-lhe um ar adorável.
-E nunca te esqueças disso. - disse Rafael enquanto lhe penteava o cabelo dourado e lhe sorria.
O almoço continuou...mas aqueles dias já não eram os mesmos...a crise, as tretas, os salários...tinham transformado aquela família. Já era raro haver risos quando estavam todos juntos.
António, o pai, sempre carrancudo por trabalhar demais e receber "demenos", 40 anos e só queria partir os cornos a certos meninos e meninas que "governam" o país. Sempre foi uma pessoa feliz e extremamente extrovertida...mas estes tempos não ajudavam...
Laura, a mãe, cada vez mais controladora por saber que os tempos iam apertando...40 anos e só queria dar o máximo aos filhos...garantir o melhor futuro possível.
Rita, a irmã pequenina e adorável que Rafael estava sempre SEMPRE pronto a defender...6 anos mas mais perspicaz do que muitos.
O almoço acabou..o pai e a mãe foram trabalhar...e ele tinha de ir levar a irmã à escola primária que ficava a uns minutos da casa deles...

2 comentários:

  1. Obrigada pela visita e comentario :) Já reparei que adoras escrever, muito há aqui para ler :)
    Boa continuação...

    Boa semana ;)

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  2. Li o teu comentário no meu blog antigo e aqui te deixo o link do novo: http://realidadeoculta2012.blogspot.com/ (:

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