terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A vizinha (11)

Ele entrou em casa e dirigiu-se à cozinha para mais um almoço em família, em que as notícias desastrosas e sensatamente alarmantes do país enchiam a maioria do tempo...a televisão enchia-se de merda, era o que era.
Depois de almoçar com um silêncio profundo como música de fundo decidiu ir sentar-se no banco que tinha no jardim...descansava e depois retomava o que estava a fazer antes da irmã o interromper.
Caminhou para o jardim e lembrou-se de que algo lhe faltava..voltou a lembrar-se da guitarra e de como lhe apetecia tocar e cantar naquele momento...chegou ao jardim e acabou por se sentar no banco que ficava mesmo na ponta do mesmo.
Depois de se ter instalado e de sentir uma vontade extrema de percorrer o seu instrumento musical preferido com os dedos, pensou que faria de tudo para saber o porquê da vizinha o ter roubado..olhou de relance para o jardim da casa dela mas este estava completamente vazio..não havia sinais dela.
Estava tudo muito silencioso, a casa deixava apanhar-se pelo vento que começava a levantar..ele olhou para o céu e parecia mesmo que o tempo ia mudar..ao longe já se conseguiam umas nuvens a aproximar-se..era pena, nos últimos dias o tempo tinha sido tão agradável.
Quando Rafael voltou a olhar para a casa da vizinha, mais propriamente para o jardim, reparou, para sua surpresa, que ela estava sentada no cadeirão que ainda há pouco estava "sozinho".
Trocaram olhares, ora de raiva ora de interesse...mas a raiva que podia percorrer as pupilas dele escancarou-se quando ele reparou na presença de mais alguma coisa..a sua guitarra estava deitada mesmo ao lado da vizinha, deitada no jardim da sua relva..e a a rapariga tão estranha olhava, sem qualquer reacção, para os olhos dele..desta vez estava sem os óculos escuros que lhe conferiam um mistério desagradável..
Dava mesmo para ver para onde é que ela olhava...e não restava qualquer dúvida de que os olhos dela percorriam os dele com uma ferocidade incrível...
Ele olhou mais uma vez para a guitarra..levantou-se enquanto ela seguia o movimento com o olhar..e depois..quando decidiu que estava na hora de ir tirar explicações em relação ao "furto"
-depois não te esqueças de cortar ali - disse uma voz do nada..era o pai que apontava para a parte mais longínqua do jardim - temos vizinhos novos não é - e acenou para a casa e para a rapariga no jardim.
-pois..parece que sim.. - respondeu ele com um medo na voz por o pai poder reparar na guitarra que jazia aos pés dela.
-então...mas aquela guitarra...

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