quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A vizinha (14)

Depois de sentir as suas próprias mãos baterem na madeira aquecida da porta olhou à volta..o som que acabara de estalar pela sua cabeça como que o acordou, e só aí é que ele se apercebeu do que acabara de fazer.
Não era nada de especial...aliás! Ele tinha toda a razão do mundo para estar ali, à frente daquela porta, à frente da casa onde vivia a sua ladra de guitarras preferida...mas por outro lado sentiu um arrepio súbito que lhe percorreu as costas e a imagem da vizinha a abrir a porta e a olhá-lo de alto a baixo com aqueles olhos surgiu-lhe no recôndito do seu pensamento...e fez com que ele se virasse repentinamente e começasse a andar no sentido contrário ao que até então achava ser o mais correcto..
Já estava quase a sair pelo portão da casa quando, para sua grande infelicidade e terror, sentiu um ranger da porta que só podia significar sarilhos.
-sim?
A voz que pairou sobre o ar era de uma pessoa que não poderia ter a sua idade..ele virou-se e contemplou aquela que devia ser a mãe da vizinha..pelo menos os olhos absolutamente brutais da filha pareciam estar estampados na cara dela.
Ele gaguejou um pouco e aproveitou o facto de ter duas mãos para começar a brincar com elas de uma forma muito esquisita...que passou para a ingestão de saliva que aumentava exponencialmente.
-está tudo bem? - continuou a mãe que o olhava de alto a baixo e que parecia estar bastante confusa.
-está..está..tudo bem minha senhora..eu..bem...não sei como é que lhe hei-de dizer isto mas...........não terá uma chávena de açúcar que me empreste? - e olhou para ela com uma cara completamente aterrorizada.
-bem..o melhor será eu dá-la porque depois de utilizada não me será muito útil - e esboçou um sorriso..se ele não estivesse petrificado de medo perceberia a piada mas limitou-se a continuar a olhá-la com uma cara de cachorro prestes a apanhar do dono.
-ah mas é claro - continuou ela quando viu que ele não respondia - é claro que dispenso o açúcar! Não percebo o porquê dos rodeios..o menino vive na casa em frente não é? - ele acenou afirmativamente - ora essa, vizinhos são para isso mesmo. Entre, entre.
Ele arregalou os olhos quando ouviu aquele pedido tão formal que até meteu impressão..mas caga lá para a formalidade...o que metia mesmo medo era a ténue possibilidade de poder vir a cruzar-se com a ladra...
A mãe escancarou a porta e fez-lhe uma espécie de vénia, indicando-lhe o caminho para o interior...parecia ser bem fixe a mãe.

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