sábado, 7 de julho de 2012

parte 2

Por incrível que parecesse, mudar de casa, pelo menos para ele, não era nada de outro mundo, não era nada que não se fizesse.
O problema é que para ele já não havia muita coisa que interessasse. Ele já estava um bocado farto, tinha 18 anos e já estava farto.
Nunca sabia ao certo se estava acordado ou num sonho de merda; não sabia se era naquele dia que as coisas iam mudar ou continuar a ser o que eram...a mesma merda de sempre.
Mas pronto..agora era hora de mudar e, quer ele quisesse quer não, tinha de ir arrumar a mala porque os pais já estavam à espera na cozinha, agora sem pratos e sem talheres e sem mesa...e sem nada.
Passaram o dia todo fechados dentro de casa, a esvaziar o pouco que tinham.
A casa ia ficando vazia juntamente com a cabeça de cada um. Os vizinhos com quem se davam melhor foram aparecendo ao longo do dia para se despedirem e desejarem a melhor sorte possível..foram poucos.
Mas agora eram horas de ir embora, o relógio de cuco que foi a última peça a ser despida da casa assinalava as dez horas da noite..e a família tinha ficado de se encontrar com o senhorio às onze.
O bairro para onde se estavam a mudar ficava a cerca de uma hora de carro dali..nem era longe nem era perto..era..só isso..era.
Ninguém se esqueceu de nada, não ficou nada para trás..apenas o vazio e as recordações de uma vida que, embora não fosse assim tão repleta de coisas boas, foi repleta..mesmo que às vezes custasse..e custou.
Entraram no carro e ele olhou uma última vez para aquela casa pequena e tão acolhedora e tão dele.
Ele não ia chorar..ele é um homem...ele não ia chorar.
À medida que o carro se afastava, e por entre a nuvem que saía do seu tubo de escape encardido, só a lua cheia conseguiu ver a lágrima solitária escorrer-lhe pela face.

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