domingo, 8 de julho de 2012

parte 4

Já não estava no carro.
Agora encontrava-se numa planície verdejante que parecia não acabar.
Ele tinha noção de que estava a sonhar, parecia sentir os solavancos do carro à medida que se aproximava do destino, mas sabia tão bem que estava a sonhar..
E há já algum tempo que os seus sonhos se limitavam a ser aquilo.
Estava com a guitarra nas mãos e a caminhar por um verde absolutamente magnífico que não deixava de existir..quer olhasse para um lado..quer olhasse para o outro..o verde, as plantas..nada acabava.
Tantas eram as vezes que o sonho se repetia que ele procurava caminhar o mais depressa possível, não fosse o sonho acabar de repente...ele sabia que tinha de haver mais qualquer coisa por lá..alguma coisa...mas parecia não haver...
Era como se fosse um mundo só dele, um mundo em que, por incrível que parecesse, ele quase que conseguia esboçar um sorriso.
Parou no sítio onde tinha acordado da última vez..era impressionante como nada tinha mudado..
Ele sabia que se ficasse ali durante um bocado a tocar guitarra..ele sabia pronto.
O sol começava a extinguir-se e o tom laranja carregado começou a cobrir tudo à sua volta.
-ah, estás aqui.
Ele voltou-se para trás ao ouvir aquela voz doce como o mel.
-mana.. - deixou cair a guitarra num monte fofo de ervas e correu para abraçá-la.
Não era nada como nos filmes, ela não era nenhum fantasma..ele sentia-a, conseguia cheirar o perfume que ela costuma usar. Ela estava mesmo ali !
-como é que estás? - perguntou ela com o sorriso mais bonito de sempre.
-os..os pais estão a levar-me.. - respondeu ele controlando-se para não chorar.
-já tiraram tudo lá de casa foi ? - continuou afagando-lhe o cabelo.
-sim maninha...estivemos lá a tarde toda...e agora está na hora de ir.. - e começou a chorar.
-pronto..pronto..vai correr tudo bem.. - disse apertando-o contra ela..ele recompôs-se.
A terra começou a tremer e a lua apareceu, cheia e brilhante como era habitual.
-acho que estamos a chegar...os solavancos... - disse assustado olhando para o chão verdejante que tremia cada vez mais.
-sim..está na hora de ir...amo-te muito..e vou estar sempre aqui. - disse começando a afastar-se, como que a voar.
-espera! Espera!! - mas ele não se conseguia mexer.. - eu também  te amo muito..
-não te esqueças da guitarra... - disse ela..sorriu e desapareceu.

Ele olhou para o lado, o carro chiava à medida que parava numa rua pouco iluminada..a guitarra estava mesmo ali, ao seu lado..e brilhava mais do que nunca.