quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A luz da fonte

Estou quase a adormecer. E já há umas três horas que tento.
Estou mesmo quase a adormecer. Os olhos pesam mais que a minha consciência, mas antes de adormecer sinto um movimento mesmo à minha frente.
Está escuro, por isso não consigo saber o que é que acabou de passar por ali a voar.
Uma melga? Um morcego? A minha dignidade? Não sei, mas também não é desta que a recupero, não me apetece.
Tento acender a luz da minha mesa de cabeceira. Mas não tenho uma luz na mesa de cabeceira. Nem mesa de cabeceira.
Então procuro pelo meu telemóvel, mas lembro-me perfeitamente que ainda antes de me deitar ele estava já a ficar sem bateria. Quanto mais agora, horas e horas mais tarde.

Não tenho vontade nenhuma, nem agora, nem nos últimos tempos. Muito menos agora. 
Alguém que me dê a tal injecção de paciência que me prometeram há tanto tempo.


19 anos depois, a tal coisa, ou sei lá como é que lhe hei-de chamar, continua a passar à frente da minha cara. Sempre à mesma hora. Sempre ao mesmo minuto. Ao mesmo segundo.
É impressionante como a mania de um puto me continua a dar pesadelos.

Matei-me há muito tempo, quando ainda acreditava em fantasmas.

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