sábado, 27 de agosto de 2011

Rafael - Parte 2

A carrinha avança pelo penhasco e ninguém a trava, está prestes a cair com ela na sua parte de trás, ela que há uns meses era uma pessoa diferente? Sim…pode-se dizer isso.


- 5 Meses antes – Sexta ao fim da tarde


-sabes bem que eu não gosto de jogar este jogo estúpido..


- sei…


-então porque é que insistes em jogar snooker comigo…?


-porque dá-me gozo ver-te desesperar…


-os tacos podem ter outra utilidade João…


-tem calma Rafael! É só um jogo…ajuda a libertar o stress acumulado..


-ya…o stress…


-não há novidades?


-em relação…? - perguntou Rafael sem querer saber a resposta.


-à tua vida.


-relativamente a isso, tu saberás muito mais do que eu, não é verdade?


-diz lá…


-há ….


-há? O quê? - João interessou-se.


-uma miúda…


-hum…uma miúda! Como é que ela é?


-oh, já sabes: bonita, inteligente, popular…a típica bdptj…


-bdptj?


-boa de mais para ti…João…


-mas não para ti?


-a esta altura já estou disposto a alterar por completo a cadeia alimentar da minha escola, não achas? - disse Rafael com um sorriso nos lábios.


-e o que é que vais fazer? - disse João sem ligar ao que acabara de ouvir.


-como assim?


-vais convidá-la para sair contigo?


-convidá-la para sair comigo?! Não! Má ideia…porque é que o senso comum das pessoas para aí? No “convidá-la para sair”? Não…aliás…onde é que está a beleza disso?


-então qual é o plano?


-eu vou ganhar…


-o quê?


-o jogo… - acaba de “arrumar” a bola preta – bem, foi um prazer conhecê-lo João, para um senhor com 35 anos você é um espectáculo.


-sim…o menino para 18 não me fica atrás…o que vai fazer em relação à tal miúda?


-simples….vou-me divertir com ela…


-divertir-te? O que é que isso significa? - perguntou com um olhar preocupado.


-divertir João…divertir significa divertir…não penses demasiado nisso... - libertando o sorriso.


-vemo-nos na segunda?


-sabes uma coisa João, você fez tantos progressos aqui…acho que já está pronto para enfrentar o Mundo sozinho…


-Rafael…


-não te preocupes João…volta sempre que quiseres… - e afastou-se a sorrir.

Rafael - Parte 1

A carrinha avança para o penhasco e o vento corta aquela paisagem inocente, quem diria que as coisas chegavam a este ponto? Que a vida giraria desta maneira? Que ele se afastaria mesmo que não se quisesse afastar…a verdade é que as coisas mudam, as pessoas mudam, as ideias mudam, os sentimentos mudam. Isso aconteceu, muito…demasiado talvez. Mas agora a carrinha não pára, está de novo prestes a cair para as rochas…lá no fundo. A noite escurece mais a cada momento que passa e já tudo dorme, o silêncio é cortado pela água a bater nas rochas lá em baixo. Não vai ninguém a guiar, o travão de mão está livre como a pessoa que vai deitada na parte de trás da carrinha a olhar para o céu cheio de oportunidades, com aquele olhar jovem recheado de adrenalina furada pelo que aconteceu…uma pessoa nova definitivamente, bem, é a mesma pessoa que ali está…mas há mais brilho no olhar, mais vida no coração.

Não há mais nada à nossa frente a não ser uma estrada, uma carrinha amarela e uma vida de oportunidades…não é?