As Bruxas riam-se.
Porque para além da lua cheia, que contrastava com o
escuro-azulado do céu, todos os animais noctívagos faziam das suas, movimentando-se de um lado para o outro no meio do nenhures que era aquela floresta.
E elas adoravam aquele cenário "mágico".
Estavam as
sete vis criaturas à volta da
fogueira, que já ardia há umas boas horas, desde que tinham chegado ao acampamento depois de mais uma
caçada perfeita.
As Bruxas riam-se.
Porque sabiam que iam
provar carne fresca,
carne de criança saudável e sem réstia de pecado, a mais
deliciosa, segundo diziam.
Elas dançavam de um lado para o outro, com os mantos negros a esvoaçar, acompanhando a leve
dança do vento que as mergulhava constantemente.
Há já muito tempo que não comiam crianças.
Há muito tempo que não conseguiam destruir o prazer de
enterrar os dentes asquerosos naquelas
peles tenras e rosadas.
Há muito tempo que não ouviam as
preces das pobres almas que seriam devoradas, preces que pareciam dar àqueles monstros séculos de vida.
Já há muito tempo que
homens bêbados,
mulheres perdidas e
velhos lenhadores faziam parte do
cardápio.
Já há demasiado tempo que tudo o que lhes
entrava pela garganta era carne velha, almas desinteressantes e que não sabiam a nada.
Mas aquela noite seria diferente.
Naquela noite iam brindar com
o sangue dos meninos e das meninas roubados durante o sono.
Iam
partir os ossos frágeis com as suas próprias mãos,
arrancá-los e
chupá-los enquanto as crianças ainda estivessem vivas.
Iam rir e dançar e fazer o máximo para que a refeição tivesse medo.
Quanto mais medo, melhor o sabor.
Iam arrancar os olhos à
criança mais nova e dá-los a comer à
mais velha.
Descobririam quais os
irmãos e as
irmãs, para que um assistisse à morte do outro.
E no fim, depois de todas estarem satisfeitas e de todas as crianças mortas, iriam passar a noite cobertas pelo que sobrasse daquele massacre, adormecendo à luz do luar de mais uma noite perfeita.
Com
peles a servirem de
cobertores.
Cabeças a servirem de
almofadas.
Almas a servirem de
sonhos.