domingo, 4 de setembro de 2011

Rafael - Parte 9

Ele entra e ela segue-o com o olhar dirigido para o chão, começa a corar com toda aquela situação enquanto que ele saúda o guarda que está na entrada, caminha para a frente e pressiona o botão para chamar o elevador…entra e espera que ela entre também...

-queres qual? Quinto, sexto? Qual andar? - perguntou ele olhando para todos aqueles botões.

-o que é que estamos a fazer? - olhando para ele.

-vamos fazer um piquenique…já tinha dito…

-numa firma de advogados?!

-porquê? No livro das regras dos piqueniques está escrito que não se pode fazer isso? – ela olha-o com uma raiva intensa…muito intensa…

-tenho de ir para casa!

-sim…é só um piqueniquezito…e depois eu levo-te…olha, chegámos! Sexto e último andar…

Eles saem do elevador e todo aquele mar de adultos fica a olhá-los enquanto Rafael cumprimenta tudo e todos sem conhecer ninguém e Rita tenta esconder a cara num sítio qualquer… ele entra numa sala qualquer e senta-se naquelas cadeiras bué fixes que têm rodinhas…

-o que é que estamos aqui a fazer?! - voltou Rita a perguntar...furiosa.

-eu disse, vamos fazer um piquenique. Senta-te…

-Rafael! Eu já disse que quero ir para casa! Tenho de ir estudar!

-sim…e eu já ouvi…já vais…calma…senta-te.

Ela ficou a olhar para ele e cada segundo que passava dava-lhe mais vontade de lhe cravar um chapadão na cara...a vontade aumentava…aumentava e de que maneira!

-senta-te… - insistiu ele – anda lá…senão isto nem é um piquenique em condições…

Ela sentou-se vagarosamente e sem desviar o olhar dele…que raiva! Enfim…sacou dos livros que tinha trazido consigo…os livros de Físico-Química…e começou a rabiscar sem parar. Aquela matéria tinha de lhe entrar na cabeça e ela não se podia perder! Era importante tirar a melhor nota possível!

Ele saca de uma daquelas gomas compridas e super açucaradas, e coloca-a dentro de um croissant dos muitos que tinha (de chocolate) na mochila…de seguida oferece o resultado de toda aquela mistura a Rita que abana imediatamente, rejeitando o que estava a ver. Ele olha um pouco e logo de seguida dá uma trinca, olhando para ela e arregalando os olhos, demonstrando que aquilo que acabara de comer era brutal!

-então…este trabalho depois - mas Rita é interrompida.

-alguma vez pensaste em trabalhar num sítio como este? –perguntou Rafael …ela virou-se para ele.

-eu? Não! Nunca! O meu pai costumava trabalhar em sítios como este…

-ah sim! O paizinho! Deixa-me adivinhar…um bancário? – ela abanava novamente a cabeça em sinal negativo – um contabilista – continuava a abanar – um pescador norueguês? – ela sorria sem tirar os olhos do livro.

-é mesmo chefe de uma empresa que vende electrodomésticos. Não és lá muito bom a ler mentes…

-isso é porque eu não estava a esforçar-me… - olhou para ela e...dito isto rolou juntamente com as rodas da cadeira onde estava sentado, aproximando-se de Rita que continuava entretidíssima entre fórmulas e contas estúpidas…colocando de seguida a sua mão sobre a cabeça dela. Ela acordou…

-o teu pai é um empregado deste mundo! Sempre…de um lado para o outro, com a papelada a amontoar-se na sua cabeça e a segui-lo para todo lado. Quando tinha a tua idade sonhava ser o que és agora: uma aluno brilhante com uma bolsa por ser a campeã nacional de ténis…mas rejeitaram-no, e desde esse dia fez tudo para que a sua filha fosse o que ele nunca conseguiu ser…Rita! A estrela da família, a celebridade da família e da escola…com os livros sempre atrás…que adora ser o centro das atenções…ela só queria não ter de jogar tanto ténis…queria…só… - ela que tinha estado o tempo todo a olhar para a frente virou-lhe o seu olhar…

-sim? - perguntou muito ansiosa.

-...só queria estar um pouco com ela própria – e tirou a mão da cabeça dela.

Ela ficou a olhar para ele com um ar surpreendido…

-então? Sou bom a ler mentes?

-…não és nada assim de especial – disse mentindo...pegou numa das gomas que estavam na mesa e fez uma mistura com um croissant de chocolate que andava por ali a vaguear…meteu tudo de uma vez à boca, e ele sorria…

-bem…não é assim tão mau… - sorriram…

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